Quando éramos crianças queríamos ser professores, médicos, cantores e astronautas. Brincávamos, despreocupados, de superpoderes, até que um dia nos disseram que deveríamos escolher uma única coisa para ser, uma plausível.
E nós, quase sem querer, aceitamos, mesmo diante da nossa rica pluralidade, que deveríamos ter uma única designação no futuro: médico ou dentista, arquiteto ou engenheiro, psicólogo ou jardineiro. E nada de superpoderes.
Assim, pouco a pouco, fomos nos encolhendo para caber numa palavrinha, quase como um espirro. Mas a gente não cabe aí não.
No papel, quando nos pedem uma profissão, dizemos isso ou aquilo. Mas, cá entre nós, sabemos que um único termo nem de longe nos define.
Muita gente não vê, muita gente não sabe, mas somos como Clark Kent. Disfarçamos bem tudo que somos. Mas há quem saiba olhar com o coração e enxerga em nós um universo. Há também uns, mais endurecidos, que nos veem apenas como sujeitos que exercem uma profissão. Fiquemos com aqueles que enxergam um mundo em nós.
Quantos professores jardineiros existem por aí. Quantos médicos escritores estão pelo mundo. Quantas donas de casa cientistas. Quanta beleza existe naquilo que somos de forma natural. Naquilo que somos quando alguém grita por orientação.
Que a gente possa ser o melhor que carregamos, com nossa intenção mais carinhosa, com nossa ação mais imediata dentro daquilo que amamos e que podemos dar ao universo.
Quantas dançarinas engenheiras existem mundo afora criando casinhas para passarinhos. Quantos motoristas são ótimos psicólogos. Quantos pais são bons técnicos de futebol. Quantas mães são ótimas enfermeiras. Quantas amigas são como mágicos, sempre nos surpreendendo e nos fazendo sorrir.
Somos tantos, somos tão lindos naquilo que podemos ser sem rótulos. Somos tão profundos em nossas aptidões.
Tiremos da cabeça essa coisa de que a gente é só isso ou aquilo.
O que eu mais vejo por aí é gente ignorando seus superpoderes e abraçando, sem pudores, a tristeza e o desânimo de uma vida rotulada.
Para fazer a diferença não é preciso visão de raio x ou PHD em seja lá o que for. Abraços, beijos, palavras de alento, peitos abertos para receber aqueles que amamos, exemplos e ensinamentos diários nos fazem voar, sem tapete mágico, até um lugar sagrado: o coração do outro.
Não nos contaram que um abraço vale mais que foguete espacial. Esconderam da gente que já nascemos encantados, que não precisamos correr para alcançar alguma poção mágica e milagrosa no final do arco-íris. Ficaram bem quietinhos para a gente esquecer dos pequenos milagres que realizamos diariamente, sem alardes.
Não inventaram ainda um nome para aqueles que mudam a vida do outro com um sorriso, com uma palavra, com um gesto carinhoso. Não inventaram um nome para dizer tudo que somos e o que representamos na vida daqueles que tocamos.
Quando inventarem, talvez aí, possamos caber em uma palavra. Até lá, não.
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Que texto lindo! Amei! Menos rótulos, mais valor ao que realmente importa.
Maiza, que gentileza o seu comentário! Muito obrigada por ler-me tão carinhosa <3
Simplesmente maravilhoso!! quanta leveza nas palavras tão perfeitas... ameii. ♥
Oi Elenice, obrigada por suas palavras tão gentis! <3
Muito rico o texto, principalmente o das pessoas tóxicas em nossas vidas.
Vou seguir no Facebook depois.
Parabéns, por tanta sutileza em um assunto tão esquecido....ser Humano.
Obrigada Lurdes pelo carinho em comentar <3 https://www.facebook.com/vanellidoratioto/