Categories: REFLEXÕES

Um amor de qualquer jeito

Por Danielle Means – via Obvious

Ele era assim, o amor da minha vida. Despertava em mim todos sentimentos mais nobres. Eu não tinha medo. Não tinha medo de ser eu, de ser julgada, porque eu sabia que ele amava minhas chatices e esse meu gênio do cão, quer dizer, amava, digamos, essa minha TPM prolongada. Não éramos nada parecidos, não completávamos frases um do outro e eu nem fazia a menor ideia do que ele poderia gostar de presente de Natal, além de mim, claro, e minha falta de modéstia. Ele me amava, ora. Ele me amava do jeito que eu sou. E eu amava o jeito que ele me amava.

Mas eu não sei amar quem me ama, porque eu simplesmente não sei amar ninguém. Não sei amar o jeito que elas são. Não aceito pessoas que não têm compromisso ou não assumem suas responsabilidades. Não aceito egocentrismo. Não aceito pessoas que não pensam primeiro no outro, porque eu posso fazer o que quiser da minha vida, com o meu corpo, com a minha saúde, mas o som alto incomoda o vizinho. Não aceito amor demais, porque me sufoca. Amizade demais me sufoca. Bondade demais me sufoca. Atenção demais me sufoca. No entanto, amor de menos me deprime. Amizade de menos me frustra. Bondade de menos é maldade. E falta de atenção é abandono.

Ele me amava demais, mas era amor que cabia em mim. Amor que não transbordava, e nem faltava. Era aquele amor que me envaidecia, que me curava e desarmava. E eu o amava muito. Muito. Muito. Muito que transbordava. Em mim.

Não é fácil lidar com o que dá certo. Não é fácil amar direito, porque problemas, mesmo que não existam, a gente inventa. E eu não sei amar ninguém, lembra? Por que isso, por que aquilo, isso não está certo, isso me irrita… Mas ele sempre tinha as palavras certas, nos momentos certos. Sem sarcasmos, sem ironia, sem brigas, sem culpados. E pela primeira vez na vida tive a sensação de que não importava saber amar direito…a gente tinha que amar a pessoa certa.

Um dia a festa acabou, a luz apagou, e eu não conhecia nenhum José. Ninguém conseguia me explicar o que havia acontecido. Naturalmente eu ainda não sabia amar direito. Ainda não aceito as pessoas do jeito que elas são. Não aceito boas intenções. Não aceito verdades construídas em cima de mentiras. Não aceito imperfeição. Não compro o rasgadinho que não aparece.

Não importa o que aconteceu. Não importa de quem é a culpa. Não importa quem apagou a luz. Importa?

Hoje somos meio oi, meio tudo bem, meio o que tem feito de bom. Viramos assim, amor de qualquer jeito.

Coisas da vida. Coisas de amor de linhas tortas.

A Soma de Todos Afetos

Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

Recent Posts

Esse filme de romance da Netflix é a dose leve e reconfortante que seu fim de ano precisa

Se você é fã de histórias apaixonantes e da fórmula que consagrou Nicholas Sparks como…

2 dias ago

Na Netflix: Romance mais comentado de 2024 conquista corações com delicadeza e originalidade

Se você está à procura de um filme que mistura sensibilidade, poesia e uma boa…

4 dias ago

Pessoas que foram mimadas na infância: as 7 características mais comuns na vida adulta

Uma infância marcada por mimos excessivos pode deixar marcas duradouras na personalidade de um adulto.…

6 dias ago

“Gênios”: Saiba quais são as 4 manias que revelam as pessoas com altas habilidades

Alguns hábitos podem parecer apenas peculiaridades do cotidiano, mas segundo estudos psicológicos e pesquisas científicas…

6 dias ago

As 3 idades em que o envelhecimento do cérebro se acelera, segundo a ciência

O envelhecimento é um processo inevitável, mas não linear. Recentemente, cientistas do Primeiro Hospital Afiliado…

1 semana ago

Desapegue: 10 coisas para retirar da sua casa antes de 31 de dezembro

Fim de ano é sinônimo de renovacão. Enquanto muitos fazem balanços pessoais, é também um…

1 semana ago