Categories: REFLEXÕES

Quero apaixonar-me!

Por Ana Luísa Neves

Quero apaixonar-me, mas não posso. A vida disse-me “agora não!” e eu fiquei assim, à espera de poder abrir a porta a essa torrente de emoções boas, à espera que volte a sentir borboletas no estômago, à espera de poder sorrir e corar. Quero apaixonar-me, mas a vida disse “espera só mais um pouquinho!”.

As escolhas podem ser duras e difíceis de se fazer, mas a sabedoria da vida é maior que a minha existência e decidi esperar. Quero apaixonar-me, mas não posso por enquanto. “Não falta muito!”, disse a vida sorrindo no seu doce e maternal sorriso e eu serenei.

Espero apaixonar-me muito. Não é necessário muitas vezes, mas apenas muito. Perder o apetite como uma adolescente, sentir-me ainda mais linda e formosa, ficar encantada como uma princesa pelo seu príncipe. Sentir que o coração se abriu escancaradamente a todas as coisas boas que vêm de onde menos se espera, tornando as manhãs em Primaveras, as tardes em Verões e os finais de dia em Outonos cálidos, cheios de cor e romantismo.

Quero apaixonar-me e espero apaixonar-me num encontro inesperado, pelo inesperado ditado, mas singularmente despertado. Marcado pelo marcante e intenso. Marcado pela marca do cheiro que brota da pele, pela fragrância que exalta as notas da tua beleza que se esconde onde só eu consigo ver. A verdadeira beleza que só é descoberta pelos sentidos mais apurados, quase raros, que despertam apenas quando no inesperado se dá o contacto, a faísca que está guardada para esse momento.

Quero apaixonar-me e espero apaixonar-me só nesses inesperados momentos que tornam o ar mais leve, a chuva confortante, os relâmpagos fogos de artifício, o vento um embalo para voar, as nuvens algodão doce, o Sol e a Lua meus guias, a quem segredo a minha felicidade iluminando intercaladamente a minha alegria. Momentos inesperados que tornam todas as pessoas bonitas, dignas de um abraço apertado carregado de amor, paz, alegria e felicidade. Daqueles que faz saltar e fugir todas as tristezas para fora de todos os corações, deixando espaço só para coisas boas e tudo o que de bom existe.

Quando desejei apaixonar-me verdadeiramente, a vida chegou á minha beira e segredou-me ao ouvido: “gostas de te apaixonar por quem é certo que se sentirá feliz ao teu lado, pelo e por quem te vai complementar, um e outro o complemento direto. Por quem não precisa de ti. Por quem não sentes necessidade de precisar, apenas lhe apetece desfrutar do que te apetece dar a desfrutar, enquanto for assim e suposto ser.

Bebe do cálice da felicidade que os outros não podem dar o mesmo, a menos que não queiras mais que apenas o que podem dar, mas não é o mesmo. Os outros cálices não são mais que um “mais do mesmo” que não dura mais que um instante, mais que meia hora ou pouco mais, durante uns dias, ou o tempo que for. Bebe, mas dos cálices raros, dos cálices que apenas altezas divinamente reais, apenas nobres de espírito têm acesso e autorização. Os outros cálices são de latão brilhante manchado, o seu conteúdo está adulterado, o seu sabor é muito idêntico, mas é fajuto, tem propriedades ilusórias com traços de mescalina, que descambam na mesma doce ilusão que se desfaz e nada deixa. Mas se quiseres apenas isso bebe e não te queixes no fim da dor de cabeça e efeitos secundários do que é artificial e aparente!”.

A vida chegou e disse no seu tom maternal: “queres, vai… Mas nunca deixes de querer o que é verdadeiro, o que é sincero, o que volta sempre, porque o seu lugar é onde deve estar e nunca noutro sítio qualquer. Regressa e aqui me tens para continuar a deixar-te ir e vir, porque sabes que há sempre um lugar para ti, mesmo que distante de todos os teus anseios, ou mesmo perto de tudo. Mas vai e vive. Bebe, tens a vida assegurada. É para te ver feliz que eu te encho de vida e amor, de dor que só é suportada pelos que têm coragem de a viver e suportar. A vida é assim, carregada de tudo e de todos, de muitos e de poucos, do tudo e do nada, das coisas mórbidas e outras mais vívidas. Tudo tem o seu haver. Tudo começará como terminou. Tudo acaba como começa e tudo começa como acaba. Antes do tudo não havia nada!”

Assim tal como a paixão! Um dia destes vou apaixonar-me.

via Ativar Sentidos

A Soma de Todos Afetos

Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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