Por Jannine Dias – via Obvious
Você acorda desanimado, olha para o relógio que despertou. Levantar da cama é terrível, ir ao trabalho é pior ainda. Mas você se levanta, toma seu café da manhã habitual, entra no ônibus, pára na porta da empresa, suspira. E esse é mais um dia de todos os outros. Um dia de um trabalho ruim, de fazer algo com o qual você não se identifica. Mas você respira fundo e continua. O salário é legal, o trabalho não é tão puxado.
Você abre os olhos, e olha para a pessoa na cama, tão próxima fisicamente, tão distante emocionalmente. Há meses você não vê brilho nela, ou em sua relação. Você dorme e acorda ao seu lado, mas vocês não conversam. Só sono pós sexo, quando há sexo. Só combinam as obrigações de cada um. Amanhã você vai pro futebol, ela vai sair com as amigas. Vocês chegarão em casa exaustos, sem qualquer comentário sobre o dia um do outro. E outro dia nascerá, e tudo será novamente igual. Existir juntos, e não conviver.
Seu dia foi atribulado. Faculdade, estágio. Correria. Você encontra seu namorado ao anoitecer, aquele namorado que já está com você há anos. Vocês dão o famoso selinho, o habitual beijo de boca fechada, aquele rotineiro. Ele enfia a cara no celular, você no seu. Vocês dão uma pausa para um lanche, ou um jantar. Você olha para o casal ao seu lado, no restaurante, rindo, se abraçando, no mundo só deles, e se pergunta porque não é mais assim entre vocês. Você pega na mão dele, fala algo do seu dia. Ele acena com a cabeça, os olhos ainda na tela. Você desiste, e volta para seu jantar. Ele te dá um beijo ao te deixar em casa. Você vai dormir pensando no sentido de continuar com tudo isso. Pensa que ele é um cara “decente”, então se submete novamente a uma vida sem sentido. Dizem para você que é raro ter homem honesto no mundo. Você deve valorizar, continuar. Relacionamentos são sempre assim. E você segue.
Você entra no prédio da universidade, com desgosto e desânimo. É aquela universidade pública, a que seus pais sempre quiseram, a que você pensava desejar. Mas ao frequentar, você percebe que nada é como você imaginava. E que passar o resto de seus dias fazendo aquela mesma coisa é uma ideia que te dá repúdio. Você toma seus anti depressivos, uma bebida com os amigos, e está tudo ok. Não vai largar a universidade pública tão almejada. Não vai deixar o curso tão esperado, tão batalhado. Você sorri para o porteiro, e entra para encarar mais um dia de algo que detesta.
É quando você perde a venda do comodismo que percebe que a hora de ir embora chegou. Chega de mansinho, assim, e transforma nosso olhar. Nos dá uma nova visão sobre as possibilidades da vida. Não obedecê-la causa frustração, dor. E pensar em segui-la é apavorante. Não há nada mais assustador do que decepcionar alguém que ama, ou começar tudo de novo. O medo de se arrepender da decisão, de frustrar as expectativas das pessoas, está enraizado dentro de nós. Mas arriscar é necessário. Que tal acabar aquele relacionamento, mudar de curso, conhecer novas pessoas? Tentam colocar em nossa cabeça que o mundo não será mais que isso, mas não devemos acreditar! Porque não posso trabalhar com o que amo, e ser bem sucedido com isso? Porque não posso sorrir para o meu parceiro todo dia, conversar, olhar em seus olhos e fugir da rotina? Escolher uma profissão que não é considerada “de grande sucesso” pode ganhar proporções imensas, caso você faça com amor e maestria. Namorar alguém que ainda não tem conquistas financeiras pode ser uma ótima oportunidade de crescer junto, de conquistar algo por si. Valorizar-se é compreender o que você quer e merece, e não aceitar menos sentimento do que está disposto a oferecer, e precisa receber. Então, vamos dar um chute no comodismo, este vilão da felicidade, e tentar? Talvez eu seja inocente demais, mas acho tão triste essa coisa de metades! Ser meio feliz na vida pessoal, passar o tempo todo garimpando momentos felizes em relacionamentos, para tentar superar os tão maiores momentos ruins. Justificar com o salário razoável, aquele emprego que te deprime. Não! Podemos ser inteiros. Vamos buscar ser inteiros!
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