Por Isabela Nicastro – Sem Travas na Língua
O mar sempre foi minha grande paixão. Como não morava em uma cidade litorânea, eu costumava esperar ansiosamente o verão chegar. Em dezembro ou janeiro, as férias em família tinham um destino certo: a praia. Quando chegava, independente da hora que fosse, eu precisava descarregar as malas e quase que imediatamente correr em direção a um mergulho. Costumo fazer isso até hoje, aliás. Boa parte das vezes, logo de primeira o mar me recebia com um belo “caldo”. Ou “capote”. Ou, como dizem no Rio, um “caxote”.
Depois de alguns minutos submersa, retornava à superfície totalmente desnorteada. Quase nua, por sinal. O biquíni enrolava todo e eu, além de ter que me recompor de todo o impacto embaixo d’água, precisava ainda dar conta de não praticar o nudismo em um local inapropriado. Digamos que não é fácil dar conta dessas situações. E o pior é que elas são reincidentes. Voltarão a acontecer quando você menos esperar.
São como os problemas. Reincidentes, desvastadores e desestabilizadores. Em certos momentos da vida, pequenos problemas parecem tão grandes, a ponto de você duvidar que sairá ileso deles. Afinal, eles são pequenos apenas para quem não os vivencia. Assim como as pequenas ondas, que podem ser tsunamis diante da leveza de quem elas arrastam. A dimensão de forma alguma altera o seu forte impacto. E ainda: o impacto é sofrido de forma diferente de acordo com o destinatário.
Na maioria das vezes, os problemas aparecem quando você não está muito preparado para recebê-los. Geralmente, estamos distraídos quando as grandes ondas nos atingem. Carentes, despreparados, desprovidos de defesa. E aí, problemas simples tomam uma proporção exorbitante. Eles nos atingem, nos derrubam e ainda nos deixam “nus” em público. Para algumas pessoas, o problema é apenas uma marola que passa de forma sutil e imperceptível. Já para outras, é um tsunami devastador e desgastante.
De qualquer forma, problemas são sempre impactantes, uns mais, outros menos. No entanto, a saída para eles é única: após o impacto, é necessário emergir. Arrumar o biquíni, recompor-se e continuar. Mesmo que os seus pés estejam firmes apenas em uma areia mole e incerta. Depois da devastação, é preciso se preparar para a próxima onda. Ela virá. Talvez menos forte do que a primeira, já que agora, você já sentiu o impacto e estará melhor preparado para os próximos.
Que venham!
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