Categories: REFLEXÕES

Pelo direito de escolha da nossa própria dor

Por Aline Rollo – via Obvious

“O normal é o parto normal”, segundo as novas regras da ANS. O que é normal para alguns, não é para outros. O normal é estar segura e confiante, sabendo que seu bebê virá ao mundo da forma que você escolheu. Com dor ou sem dor. De cesárea ou parto normal.

Eu fiz uma cesariana há sete anos atrás e não me arrependo. Passei pelas contrações do parto quando estava no 8º mês de gravidez e, mesmo já tendo optado pela cesárea, percebi que tinha feito a melhor escolha. Por que eu deveria sentir tanta dor ao colocar minha filha no mundo? Por que ela teria que chegar dessa forma na minha vida, com horas de trabalho de parto, dor, náusea? Pra dizer: “minha filha veio ao mundo da forma mais natural possível?” ou “Levantei no dia seguinte super disposta, sem nenhuma incisão na minha barriga, e pude me recuperar super rápido do parto”?

Eu tive o direito de escolher. Meu obstetra me mostrou as duas formas. Por uns 2 meses, achei que fosse seguir o parto normal. Mas passei a assistir àqueles programas do canal Discovery Home & Health, onde as mães sofrem à beça pra dar à luz, e resolvi que não queria passar por tudo aquilo. Mas a escolha foi única e exclusivamente minha.

Admiro a coragem das mulheres que fazem o parto normal. Eu não tenho essa coragem, obrigada. Não me importei com a cicatriz, com o pós-operatório, com os pontos, e nem com o fato de minha filha ser “arrancada” da minha barriga sem estar pronta. Ah, mas o bebê simplesmente é tirado de dentro de você, não é um curso natural da vida. Eu estava com todas 39 semanas completas. Manu estava mais pronta do que nunca pra nascer. Aliás, ela estava pronta, encaixada e aprontando desde o 8º mês, quando descobri estar com 3 dedos de dilatação e algumas contrações nada agradáveis.

Parto na água, natural, sem anestesia, é pra quem é guerreira. É pra quem agüenta muitas horas de dor. É pra quem tem um preparo enorme para ser mãe. Eu não tinha, assim como muitas amigas minhas. Fiquei grávida no susto e não queria, de maneira alguma, sofrer para que minha filha viesse para os meus braços.

A resolução da ANS visa diminuir a quantidade de cesarianas no Brasil por vários motivos, principalmente na rede particular, onde os médicos “faturam” um pouco mais ao realizar uma cesárea. O Ministro da Saúde Arthur Chioro afirma que “o normal é o parto normal”. Por que? Porque era assim que era feio antigamente? Porque a minha avó nasceu pelas mãos de uma parteira em casa e é assim o curso natural de um nascimento?

O corpo é meu. A dor é minha. A filha é minha. E como ela veio ao mundo foi escolha minha. E gostaria também que fosse escolha de todas as gestantes do país, que sabem o quanto é complicado carregar um bebê por nove meses, esperar sua chegada ansiosamente, com a cabeça e o corpo cheio de mudanças, extremamente sensível. Cada um com a sua sensibilidade e seu direito de escolha.

A Soma de Todos Afetos

Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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