Por Cristina Souza – via Obvious
Ou se fala do amor sublime – aquele de quem está vivendo, do lado de dentro, compartilhando sorrisos, beijos e cumplicidade – ou do amor doído, quando ele acaba e um dos protagonistas ainda o sente (ah, e como sente!), do sofrimento causado quando se rompem os laços e tudo vira nó, tudo vira só. E quando o tempo do amor acontece na terceira pessoa do singular? Quando a gente quer que o Eu e Tu vire Nós, mas somos o ‘Ele’ que observa – e sofre – no canto?
Amar é coisa engraçada. A gente está sozinho, carente, quer alguém, nada aparece. Se estamos com pressa, sem tempo, sem disposição, tropeçamos sem querer com ele por aí. Almejamos por aquele que curta as mesmas bandas que nós, tenha umas estranhezas parecidas com as nossas, troque a balada pelo vídeo-game e ria das piadas sem graça. Você encontra uma pessoa dessas, que tinha tudo para ser o par perfeito. Mas eis que falta algo, simplesmente falta. Poderia ser sublime, mas não acontece, não tem chama, não tem pele, não tem. Não é. E então, aquele mais improvável e diferente cruza seu caminho em um dia qualquer da semana, um dia que talvez chovesse ou estivesse sol – você nem lembra, não tinha importância, e do nada o mundo vira de ponta cabeça. Até aí, tudo bem, acontece. Mas e se essa pessoa que descompassou seu coração já faz morada em outro?
Julgamentos. É essa a primeira coisa que fazemos quando não é com a gente. Onde já se viu, com tanta pessoa solteira no mundo, por que escolher justamente alguém que é comprometido? Saia dessa, caia fora, esqueça: Não é a única pessoa no mundo. O mar está cheio de peixe. Mas o (a)mar, ah esse tem águas desconhecidas: vem como fúria e te encharca. Quem está desse lado, luta para não se afogar, emergir e sair ileso, mas é difícil nadar contra a corrente que vem de dentro do peito. Se fosse para seguir o roteiro e escolher, obviamente optaríamos por amar quem está disponível, o que é alcançável, seguro, certeiro: Mas parece que esse tal de amor é dado a dramas, sem finais óbvios.
Como é difícil interpretar esse tempo, quando o verbo é sentir mas você conjuga esperar, quando a ação é beijar, abraçar, querer, mas você acaba por sofrer. Nesse limbo – localizado entre o céu de quem se ama e o inferno de quem terminou – está lá você que não vive o doce do amor embora ame, nem o amargo do fim, pois nem começou. É difícil saber como agir. Você sabe que é errado. Que não devia. Que tem que esperar passar, que tem que ir pescar quem sabe alguns desses peixes, mas a sua isca não combina com nada. Se você está passando por isso, me desculpa, mas não tenho o que te dizer. Apenas que entendo, e sei o quanto é difícil. Sinta, sinta muito – sinta o sublime do amor dentro de ti, sinta o fardo de não ser você o protagonista dessa história romântica. Como falei antes, amor é drama e o final, quem vai saber? Deixa ser.
(E aos que julgam, me desculpem por esse texto, mas isso precisava ser falado. Sempre há o outro lado, e quando se está lá é bem mais difícil. Não ofereça palavras ruins, quem está passando por isso já vive em bastante conflito. Apenas pensem nisso).
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