O que esperar de um filme com cinco adolescentes da década de 80? Além das cenas simples e até previsíveis, um olhar mais sincero para as inverdades que toda a humanidade é obrigada a propagandear há tempos. Clube dos Cinco é uma pérola no meio da multidão.
HEY HEY HEY HEY
Produzido em 1985, escrito e dirigido por John Hughes, diretor estadunidense que melhor sintetizou a juventude da década de 80 em suas produções. Este filme segue a receita dos sucessos deste período: os estereótipos, uma rebeldia nos detalhes, um pouco de rock, um pouco de romance e ambiente escolar. O que o torna magnífico está para ser discutido a seguir. Cinco personagens modelos de uma geração, parafraseando o próprio filme, pode-se definir como: um cérebro, um atleta, um caso perdido, uma princesa e um criminoso. O filme inicia com o irrecusável hit DONT YOU FORGET ABOUT ME – SIMPLE MINDS, os primeiros minutos apresentam a chegada dos protagonistas ao Shermer High School, onde irão cumprir detenção em um sábado por oito horas e cinquenta e quatro minutos e mesmo não sendo completos desconhecidos são oriundos de diferentes grupos dentro da escola, desta forma seriam inimagináveis juntos.
“E essas crianças em que você cospe enquanto elas tentam mudar seus mundos, são imunes aos seus conselhos, elas sabem muito bem pelo o que estão passando.” David Bowie
O filme se desenvolve com a atuação de cada personagem dentro do esperado de suas personalidades e a princípio são xenófobos uns com os outros. Esta diferença aos poucos vai sendo diluída quando é possível notar a inadequação como ponto em comum entre todos os envolvidos.
A produção é repleta de cenas inesquecíveis e relevantes para a identificação do telespectador com os personagens, nesta intenção mora toda a genialidade do filme.
Mesmo tendo sido feito na década de 80, mesmo já tão distante desta geração de fibra ótica que constrói suas relações sociais em “cloudy”de memórias, o filme consegue ser atemporal por trazer intérpretes tão próximos da juventude ainda hoje. A necessidade de aceitação social é por si um lugar comum da humanidade, a necessidade de pertencer a um grupo, a inadequação bem guardada dos indivíduos e a influência nociva das projeções pessoais que os pais submetem seus filhos. Estes temas fazem desta produção a obra prima do diretor.
“Quando crescemos nossos corações morrem.” Allison Reynolds
A escola não deixou de ser o local que encaixota pensamentos e molda os espíritos, a educação ainda não foi discutida o suficiente para ensinar de fato coisas relevantes ao invés da repetição perene há tempos conhecida. A desconstrução dos personagens durante as cenas revela um pouco de cada um que está assistindo o filme desde a década de 80. Ao tempo em que os protagonistas revelam suas fraquezas (na épica cena dos cinco reunidos contando sobre o motivo de estarem ali) o telespectador é atingido pela crueldade incontestável que transformou os cinco naquelas pessoas que estavam distantes do que realmente eram, porém próximas do que se espera que sejam.
É inegável que quase todas as pessoas não lembram em que momento tornaram-se o que são, o processo de transformação e abdicação de si é anterior ä consciência pessoal, começa nas projeções pessoais que casais apaixonados e encantados pela maternidade/paternidade incidem sobre seus filhos, continua na ideia de necessidade de pertencimento imposta pela sociedade, é cadenciada pelos projetos padrões de vida disseminados nas propagandas do cotidiano. O filme fala de tudo isso disfarçando seu profundo drama na doçura atraente da juventude, com cenas inocentes e possíveis na vida de qualquer pessoa.
Após o dia de detenção, os cinco jovens têm suas vidas desmontadas e redirecionadas para suas próprias essências. Talvez atualmente não seja de extrema significância a conexão entre as pessoas com seus problemas, pois já existem outras válvulas de escape para disfarçar todo o caos interior que a juventude carrega consigo. Em contraponto, o filme abre a possibilidade de refletir, olhar para dentro de si, entrega a chave para destrancar a porta interior e enxergar o verdadeiro habitante isolado e confinado atrás das máscaras sociais a que todos são obrigados a usar (talvez nunca abandonar).
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