Por Drica Serra – via Tempo de Amor
Tem gente que abraça a dor. Eu acho isso muito triste. Não consigo acreditar que alguém goste de sofrer. E sempre tem um pra soltar o tal “Fulano não deixa disso porque gosta de sofrer.” Ora, não acho que seja simples assim.
É muito difícil escolher entre a dor e o nada. É que, às vezes, a gente se apega a uma dor por medo do vazio que pode aparecer quando a gente decidir soltá-la. E então aperta, segura, espreme, deixa o coração calejado, sangrando, cansado.
Aceitar a realidade pode ser dolorido. Daí a gente inventa desculpa. Evita pensar no tal “assunto delicado”. Diz que quase nem lembra mais. Finge que nem dói tanto assim, pra não doer por inteiro, pra ferida não estancar, pra ter algo além da marca.
Eu sei. Mas sei também que a gente precisa se reinventar. Depois da dor, do rompimento, do choro, da queda, da traição, é preciso deixar que o coração apertado abra espaço pra algo novo. É preciso parar de se esticar pra alcançar o que a vida já levou, e deixar que a esperança morra antes que nos mate por dentro.
Algumas coisas nunca darão certo. Levei um tempo pra aceitar isso. Remoí o passado, reli as cartas, ouvi as músicas, olhei as fotos, até decidir que não ia deixar a dor me engolir. Destranquei a porta e o coração, limpei tudo, deixei doer por inteiro, joguei fora o que poluía, deixei a vida entrar de novo. É possível e é preciso. Qualquer vento nos derruba se a tempestade estiver dentro de nós.
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