Por mais que doa, é preciso assumir as próprias fraquezas, a falência dos sonhos, a tristeza, a decepção e o incômodo que intranquiliza os nossos dias, conscientizando-nos de que depende tão somente de nós mesmos a mudança de postura que será capaz de nos tirar de onde nos sentimos tão desconfortáveis.
Todos mentimos, por variadas razões, às vezes mais, outras vezes menos. Mentimos no trabalho, no bar, na entrevista de emprego, para os amigos, para os filhos, para os pais, para quem quer que seja. E assim vamos enganando a todos, menos a nós mesmos, porque a nossa verdade estará sempre aqui dentro de nós, lembrando-nos de que aquilo que estamos vivendo é consequência direta do que estamos ou não fazendo de nossas vidas.
Às vezes, mentimos aos colegas de trabalho sobre nossas reais potencialidades, omitindo o quão desgostosos estamos com aquela rotina de serviços que não têm nada a ver com o que pretendíamos ser. Engolimos nossa frustração, desviamos nossos olhares, fugimos ao enfrentamento do que poderia – e deveria – ser mudado, por medo e insegurança, pois temos a mania de nos sentirmos bem mais incapazes do que na verdade somos.
Outras vezes, mentimos no círculo de amigos, mostrando-nos simpáticos com todos, como se gostássemos de cada um deles, assim como são. Fingimos não ouvir os comentários descabidos, não ligar para as gracinhas desagradáveis, atuamos dolorosamente para não dizer o quanto aquela pessoa é chata, pois não queremos que ninguém pare de gostar de nós, iludindo-nos com a ideia equivocada de que somos amados por todos.
Não raro, mentimos aos familiares, sorrindo sempre, o tempo todo, como se vivêssemos uma vida perfeita, como se nossos filhos não dessem problemas, como se a lua de mel fosse eterna, todas as noites, no quarto de casal. Não nos sentimos no direito de dividir as tristezas com quem cresceu no mesmo lar, não queremos incomodar, não queremos expor os fracassos com que somos devastados continuamente.
Muitas vezes, mentimos ao parceiro, fingindo que está tudo bem, que nada mudou desde que nos conhecemos, como se não tivéssemos sido expostos às fraquezas e ao pior de cada um, como se não tivéssemos nos ofendido com palavras ofensivamente cruéis, como se não vivêssemos culpando um ao outro pela grana curta, pelo filho rebelde, pelo tédio que se instala nas noites de sábado, pelo silêncio ensurdecedor que tira o nosso sono.
O pior de tudo é aquilo que não sai de nós, aquilo que se acumula na forma de ressentimento e impotência, tudo aquilo que não fizemos, não dissemos, não fomos ou deixamos de ser. Tentamos inutilmente nos iludir com as mentiras escapatórias que criamos, pois bem sabemos, no fundo, da nossa imensa parcela de responsabilidade sobre o curso que tomam nossas vidas.
Por mais que doa, por mais que resistamos, é preciso assumir as próprias fraquezas, a falência dos sonhos, a tristeza, a decepção e o incômodo que intranquiliza os nossos dias, conscientizando-nos de que depende tão somente de nós mesmos a mudança de rumo, de postura, de pensamento que será capaz de nos tirar de onde nos sentimos tão desconfortáveis.
Ou agimos contra tudo o que nos diminui, ou manteremos a mentira, a dor e a infelicidade de uma vida vazia e totalmente deslocada do que realmente queremos para nós. Porque viver sem sorrir é como morrer e continuar respirando, com sufoco, entre lágrimas, com um coração vazio, sem amor e sem amar de fato.
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