Por Luiz Menezes – via Tempo de Amor
As nuvens encobrem as luzes da cidade; pela primeira vez em algum tempo, me sinto distante de tudo. Por mais que seja de forma literal, há algo dentro de mim que não pulsa mais como antes. Há algo dentro de mim que chama por mim mesmo, me traz de volta à vida; há algo dentro de mim que parece, finalmente, ter te dado o adeus que eu por tanto tempo segurei.
Estou voando. As luzes do avião estão tão apagadas quanto minhas memórias sobre nós dois; terminamos tão suavemente quanto um pouso com derrapagem. Terminamos tão suavemente que eu preferia ter sido nocauteado algumas vezes com uns bons socos nos olhos ou no estômago – mas, mesmo sem luta, eu sangrei.
Sangrei por nós dois, de uma forma estranhamente saborosa. Eu vivi nós dois por breves dias infinitos, com uma cega crença de que daríamos certo. Com certa esperança de que você um dia acordasse apaixonado. Com certa vontade de te fazer o cara mais feliz do mundo.
Seus olhos são escuros como a noite lá fora. O céu denuncia nossa solidão irrefutável; o Universo insiste em fazer com que eu me iluda, e creia em um destino certeiro – o Universo insiste em me fazer acreditar em você. A noite é quase tão linda quanto olhar para você; conto as estrelas da mesma maneira que contava suas sardas. Solto um sorriso de canto por lembrar do seu sorriso de canto. Sorrio. Porque sei que términos também podem ser novos começos. Ou recomeços.
A inspiração não me vinha há um tempo, sem alguma explicação clara. Talvez porque eu tenha me encontrado na vida, e me perdido no amor; talvez porque eu tenha descoberto que é impossível se dedicar a si e a alguém ao mesmo tempo. Talvez porque eu não quisesse ouvir o que eu tinha a me dizer. Mas eu ainda lembro de você, todos os dias; quando chego cedo no trabalho, e me falta uma mensagem de bom dia. Quando chega o final de semana, e não tenho planos como antes – e a surpresa do inesperado é a única coisa que me causa frio na barriga. Quando respiro, e percebo que tudo que eu quis era que você me inspirasse.
Sabe quando você gosta de alguém, e tudo que você queria é que essa pessoa gostasse de você de volta?
Foi assim que eu me senti com você; foi o que eu mais desejei. Eu esperei seu coração decolar em direção ao meu – e terminei em queda-livre, sozinho. Não que eu me importe. Mas quando o assunto é você, eu não sei o que importa mais – o que sinto ou a verdade.
Eu sei que você não me quer. Eu sei que eu insisto em socar a parede porque as pequenas coisas me fazem falta; sua barba, seu café coado, sua camiseta listrada. Seu plano de morarmos juntos por volta dos vinte e nove, com dois cachorros, vinho tinto e sexo sem hora pra acabar.
Você não tem culpa pelas minhas expectativas; eu as cultivei com muito esmero, confesso. Cultivei-as sozinho, e reconheço minha burrice babaca e meu coração perdido.
Você seguiu em frente porque você nunca me prometeu nada além de um beijo e uma mentira subentendida de que talvez pudéssemos ficar juntos – se o Universo não fosse tão grande e as distâncias não fossem tão filhas da puta.
O único som que me incomoda é o motor distante do avião. Quando a turbulência vem, ela chega calma. Chega como a vontade de mudança, como o sonho de não desistir, como a persistência de que talvez ainda dê certo; não eu e você, mas eu mesmo com o amor.
Eu não ligo de perder algumas milhas, até chegar ao meu destino final. E você só foi uma conexão mal feita e demorada.
Eu ainda tenho muito a te dizer, eu acho; mas não agora. Não me restou muito tempo, nem muita vontade de perder novamente meus dias infinitos com você. Eu não posso esperar que o café não esfrie, se eu deixá-lo largado às moscas. E você não pode esperar que eu esteja te esperando, depois de dois longos anos nos quais voei sem rumo e sem paraquedas.
Além do mais, já está na hora de pousar.
As nuvens encobrem o meu coração. As luzes, que antes bombeavam seu amor por minhas veias, hoje carregam oxigênio velho misturado às suas cinzas. Hoje, me trazem vida. Sem você.
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