Existe a falsa ideia de que levantar muros quando sofremos é o melhor que podemos fazer para nos proteger de uma nova dor, sobretudo porque construir pontes que favoreçam o início de outras relações parece muito arriscado. “Já sofri muito”, dissemos a nós mesmos, e criamos uma série de defesas nas portas do nosso coração.
A verdade é que atualmente passar a vida com um escudo e uma lança não apenas é mais simples do que se mostrar vulnerável, mas é mais prático também. Dessa maneira você evita decepções, quedas desnecessárias e punhaladas pouco ou nada merecidas. No entanto, você não acha que já é hora de afastar o rancor, a cautela e os medos?
Talvez você pense que não, que já riram o suficiente de você e apesar do seu ponto de vista ser compreensível, mas sou obrigado a dizer que não seríamos pessoas plenas se não nos propuséssemos a conhecer gente nova, ter experiências diferentes e passar por ciclos que começam e chegam para encerrar essas etapas de uma vez.
Se falhamos e nos machucaram, a primeira reação ao processo de aceitação é uma ação de autodefesa. Terminamos a história com essa determinada pessoa e fechamos toda a possibilidade de emoção que poderia agitar a nossa vida: “não vão me machucar mais porque não darei a ninguém a oportunidade de fazer isso”.
Evidentemente acreditamos que esse sistema de defesa é perfeito porque nada nem ninguém poderá roubá-lo. Colocamos uma armadura pesada, sem perceber que estamos privando a nossa pele do contato com o ar. Sem saber que na verdade estamos correndo um sério risco de infectar as nossas feridas.
Em outras palavras, não se deixe enganar: o dano permanece unidirecional. A superproteção nos impede de aproveitar a vida e gera um estado de alerta constante em nossa mente que nega a possibilidade de nos deixarmos ser levados pela maré. Levantar muros torna-se uma cruz invisível que nos segue e persegue, faz com que pensemos que tudo que existe no mar são tubarões.
Por mais que se empenhe em acreditar que levantar um enorme castelo construído especialmente para a guerra é o melhor a se fazer, você está enganado: não seríamos nada se não nos permitíssemos ter contatos emocionais com os outros. Perderíamos muito se não fôssemos capazes de construir pontes ou de aceitar o perdão e ter a virtude de perdoar. Não pelos outros, mas sim por alguém especial: você. Pense bem, para que serve perdoar? Você tira proveito disso?
Você merece o privilégio de perdoar os erros que outras pessoas cometeram porque dessa maneira você conseguirá se livrar de fardos que já não deveriam significar nada para você. Tenha novas metas, novos desafios, conheça novas pessoas, experimente mais. Por que você não deixa isso acontecer?
Até certo ponto, podemos dizer que o coração tem seus próprios espaços e é preciso saber administrá-los bem: os obstáculos que impedem a luz de iluminar os principais salões. Se você conseguir agir dessa maneira irá encontrar a paz interior que tanto procura e, sem saber, irá absorver o tempo e saberá se expressar, sem sucumbir aos fantasmas do passado.
Nosso título afirmava que é melhor construir pontes do que levantar muros, mas ainda não explicamos o que significa construir uma ponte. Durante a Idade Média algumas fortalezas se serviam de diferentes “auxílios tecnológicos”, como as pontes levadiças, que eram elementos de defesa tão eficazes como os fossos: por um lado, elevá-los permitia proteger a via de acesso dos inimigos e por outro, favorecia o tráfego marítimo e a entrada no castelo.
Se aplicarmos essa metáfora à vida veremos que é muito complicado lançar essa ponte para permitir a entrada ou não do desconhecido quando recentemente custou tanto expulsar o inimigo do nosso coração. No entanto, postergar essa atitude por muito tempo poderá nos isolar do mundo exterior, nos mergulhará em inseguranças e irá apagar aos poucos a nossa vitalidade.
Como em todas as outras coisas, o que é mais difícil de conseguir parece nos completar mais e gerar uma grande adrenalina. Por isso, se você acredita que precisa virar a página, construir outras lembranças ou sentir verdadeiramente que a ferida cicatrizou: por que não deixa de levantar muros e se anima a começar a construir pontes?
Texto publicao por A mente é maravilhosa
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