A cada hora, 321 barquinhos estão prontos para navegar no mar da vida. Alguns são postos à prova desde o princípio com seus cascos frágeis, enquanto outros já sabem exatamente o que fazer quando colocados ao mar. Não sabemos ao certo o que define qual barquinho vai flutuar ou afundar, mas sabemos que eles nunca navegarão em linha reta. Isso porque o mar não é nivelado ou retilíneo como alguns marinheiros gostariam que fosse.
O mar é feito de altos e baixos e o segredo está em não achar isso ruim. A pior situação, acredite, seria um mar endireitado, aprumado ou vertical, pois o barco viraria a cada mudança de rota ou simplesmente pararia de navegar ao primeiro impulso perdido. As fortes ondas fazem com que o barco se mantenha em movimento e, ainda, gere vibrações que se comunicam com outras embarcações.
É preciso manter o estaleiro firme e forte, ainda que a chuva destrua algumas paredes. É no estaleiro que levamos nosso barquinho para o conserto, por isso, devemos considerá-lo a parte mais importante do processo todo. O estaleiro é o local onde encontramos as ferramentas para aprimorar a quilha, por exemplo, que dá estabilidade a qualquer superfície reta. Também é no estaleiro que conseguimos consertar o leme, imprescindível para determinar o rumo da navegação. Sem um estaleiro bem formado qualquer viagem se torna impossível.
Os segredos do mar também influenciam na capacidade de cada barco em superar os dias de tempestade. É preciso conhecer os mistérios e dominá-los, ainda que a gente vire o barco tantas e tantas vezes até conseguir mantê-lo em pé por mais tempo. É um processo difícil, mas necessário. Além disso, também temos os dias de sol, aparentemente tão fáceis de lidar, mas que também exigem um domínio importante para aproveitá-los com intensidade, sem perder a oportunidade de vislumbrar a paisagem enquanto o barquinho aproveita a serenidade da viagem.
Por nosso caminho outras embarcações passarão, algumas, inclusive, nos ajudarão a consertar as nossas peças quando estivermos longe do estaleiro. Acredite, alguns barquinhos nos levarão aos seus próprios estaleiros, oferecerão pouso e alimento até que possamos retornar ao mar. Outras navegarão sozinhos e farão de tudo para derrubar nossa embarcação. Talvez consigam e isso também faz parte da viagem.
Outro ponto importante para que nossa embarcação não perca o rumo é simples: ter um destino. Sem isso será inviável terminar a viagem. O rumo é aquela ilha onde desejamos levar nosso barquinho. Não, o destino não é imutável, pelo contrário, ele se modifica com o passar do tempo. Isso também faz parte da trajetória. O que importa mesmo é refazer a rota quando necessário e não deixar que o barco pare, pois na primeira onda grande, ele “ploft”, é derrubado tal qual no jogo de batalha naval. Porém, como no jogo, se não arriscar por medo de errar, nem prossiga a viagem.
Não existe manual que ajude na viagem que o nosso barco vai fazer, aliás, que chato seria se fosse previsível o caminho a navegar. O que devemos levar é um bocado de coragem para enfrentar as turbulências. Se o barco virar, outras embarcações ajudarão a desvirá-lo. Aceite essa ajuda, pois sozinho o barquinho quebra. Ah, outra coisa, não fique comparando seu barquinho com o do cara ao lado, pois cada um é um e esse é o barato da viagem. O seu barquinho é único no mar. E essa é a coisa mais certa que existe.
Não, essa é a segunda coisa mais certa que existe. A primeira é o fato de que toda e qualquer viagem termina um dia. Calma, muito calma nessa hora. É só uma passagem! O barquinho sempre volta melhor. Bom, aí depende muito do que você acredita. Por isso, faça da sua trajetória um incrível acontecimento, auxilie os outros navegadores, dê carona, divida seu porto seguro com quem precisar e, claro, com quem você mais ama. E o principal de tudo: cuide do casco de fora, mas apegue-se ao que tem dentro. É o que tem dentro que faz tudo valer a pena.
E aí, como está sendo a sua viagem?
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Ótimo artigo!!