Aprenda a fazer falta. Principalmente para quem sabe onde lhe encontrar

Ontem, conversando com uma amiga pelo WhatsApp, ela me contando sobre o fim de um relacionamento, me disse: “Vou sumir. Fazer ele sentir falta”. E concordei, pois embora essa seja uma artimanha arriscada, é uma das únicas que pode dar certo.

De vez em quando o único remédio é sair de cena para o show continuar. Aprender a ser ausência quando tudo já foi dito, cobrado, explicado. Deixar de ser insistência para ser abstinência.

Controlar os próprios impulsos pode parecer simples, mas é uma das coisas mais difíceis de se conseguir. Tanta alegria dando sopa lá fora e a gente teimando em se fixar na pessoa que foi embora.

É preciso entender que enquanto você insiste em checar os horários em que o outro “visualizou por último” no WhatsApp, muita vida está acontecendo e sendo deixada pra trás.

É claro que no início vai ser mais difícil _ não é de uma hora pra outra que o coração entende as mudanças de planos e estações _ mas aos poucos, bem aos poucos, a gente aprende a fazer falta.

Suma do mapa de quem sabe onde lhe encontrar e até o momento não se importou; pra quem teve todos os seus sorrisos e nunca valorizou.

Saia de cena de quem você ouviu inúmeros “nãos” e nunca acreditou; de quem pouco se relacionou e muito se cansou. Do afeto pequeno que tanto lhe recusou e você sempre aceitou.

Suma do mapa de quem vive com dúvidas e nunca lhe teve como certeza; de quem não aprendeu a remar junto e agir com gentileza.

Aprenda a fazer falta para quem já se habituou à sua presença e desaprendeu a sorrir quando você aproxima. Pra quem se esqueceu como é boa a sua companhia e prefere se refugiar numa vida fria.

Fazer falta é segurar o impulso de procurar, vasculhar, perguntar. É frear a vontade de entender o que não dá mais para explicar ou de justificar o que não merece absolvição.

Fazer falta é não ligar, não mandar mensagens, não digitar o tal endereço na barra de contatos do email. É sair para se distrair com os amigos, dar uma corrida no parque, respirar fundo e encontrar sentido na solidão. É orar para o pensamento acalmar, não bisbilhotar o perfil da pessoa no Facebook, deixar de postar as próprias fotos com a intenção de ser visto à distância. É desistir de parecer bem quando não está bem, é cortar o cabelo para renovar o espírito, é ficar bem longe do celular enquanto toma um copo de cerveja ou uma taça de vinho. É, acima de tudo, agir com esquecimento para quem sempre pareceu esquecer você.

Torço para que minha amiga consiga sumir. Para que, sumindo, ela descubra se realmente faz falta. Para que, sumindo, ela descubra o quanto sua presença é importante ou não. Sumir é uma estratégia arriscada, eu sei. Mas também define muita coisa mal resolvida. Também traz as respostas que buscamos e nem sempre encontramos.

Nem sempre as respostas serão aquelas desejadas, mas no fim nos libertam a prosseguir com mais certeza, clareza… e amor próprio.

Fabíola Simões

Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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      • Faz 2 meses que nos separamos, nesses 2 meses, estamos mantendo contato ainda, será que se eu sumir ainda da efeito?

    • Boa tarde!
      Gosto muito de seus comentários, são muitos relacionados com fatos diários, mas as pessoas não tem mais paciência tolerância para as coisas de hoje parece ser mais fácil buscar sempre algo diferente e será mais fácil de resolver coisas vividas.

  • Preciso urgentemente seguir esse caminho do desaparecimento Fabíola!! Nossa como preciso!!
    Mas é tanto Amor envolvido, em tantos anos, 15. Que em meio várias tentativas frustradas e voltando de cada uma pra estaca zero, vc se pergunta? Pq se permitir a viver desta forma?

    • Torço por você Flávia, e espero que consiga resolver esse desencontro! Cuide de você... o resto vem como acréscimo! Fique com Deus! Beijos!!!

  • Concordo plenamente, adorei abordagem do texto, é uma estratégia sábia, desapegar de coisas ou pessoas que não se importam conosco, e dentro do possível dar a real importância a coisas e pessoas. Lembrando sempre de que tudo depende da importância que depositamos.

  • coisa de criança mimada, se quer ficar junto o negocio é sentar e conversar... sumir é pra quem quer realmente terminar.

  • Nada a ver, Dauiz. Como fala no texto, se depois que a pessoa fez tudo isso, o outro não valoriza , o q resta é sumir mesmo. Afinal, o outro já demonstrou que não faz questão. Se ele gostar mesmo ele vai atrás. Sabe aquele história de dar ausência pra valorizar a presença? Poise.

    • Obrigada Nevesp! Como disse, o importante é ter amor próprio e saber valorizar quem valoriza a gente! Grande beijo!

  • Maravilhoso, me ajudou muito. Nunca fui valorizada pelo meu namorado, terminei ontem e vou sumir tbm. É a melhor escolha para quem nunca se sentiu amada por aquela pessoa verdadeiramente. Quero redescobrir a vida que eu perdi enquanto olhava para quem não olhava de volta pra mim. Parabéns pelo texto, um grande abraço!

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