Por Roberta Simoni – via Obvious
Se Mariana soubesse que aquela era sua despedida da vida de solteira e que tão logo se entediaria com a vida de casada que tanto sonhava, teria aproveitado melhor aquela noite em que saiu com as amigas. Ela teria enchido a cara, dançado até os pés doerem e voltado pra casa só de manhã, bêbada e descalça, mas, no lugar disso, passou a noite reclamando que estava encalhada e que não aguentava mais ficar sozinha. Naquela mesma semana Mariana conheceu Carlinhos, com quem se casou e nunca mais saiu para se divertir porque o moço gosta mesmo é de ficar em casa. Agora Mariana raramente vê as amigas, raramente sai e raramente consegue ficar sozinha.
Se Paulo soubesse que aquela era a última vez que teria a chance de falar com a mãe, ele teria dito o quanto a ama e teria agradecido por todo o amor que ela lhe dedicou, mas quando ela ligou, no dia anterior, ele estava ocupado demais para falar com ela. E, no dia seguinte, quando atendeu o telefonema dela, só disse: “mãe, já te ligo”, mas esqueceu de ligar de volta. Agora, de onde ela está, já não pode atender nenhuma chamada.
Se Antônio soubesse que Joana terminaria o namoro com ele e que aquele seria o último fim de semana deles juntos, não teria comprado uma aliança pra ela, tampouco teria perdido tanto tempo planejando como faria o pedido de casamento e como seria sua vida ao lado dela.
Se Teresa soubesse que aquela era a última manhã que acordava ao lado de Júlio, ela teria ficado abraçada com ele na cama até mais tarde, teria feito amor como nunca, não teria deixado ele sair de casa. Se Júlio soubesse que um carro ia passar por cima da vida dele, atropelando seus todos os seus planos, teria pedido desculpas à Teresa pelo tempo que desperdiçou com brigas bobas e, sobretudo, não teria saído de casa.
Você pode até saber quando vai ser a última apresentação de uma banda que você gosta, a última chance de assistir a um espetáculo que vai sair de cartaz, o último dia para enviar sua declaração de imposto de renda, o último dia das suas férias, a última vez que você vai ter 18 anos ou as últimas horas para poder participar de uma promoção, mas é possível – e muito provável – que você nunca saiba quando vai ser a última vez que você vai ver um amigo, vai abraçar quem você ama ou vai ter a chance de ver o sol se pôr.
Na maioria das vezes você não receberá aviso prévio, não terá a chance de se despedir das pessoas, dos lugares, nem mesmo das fases da sua vida. Embora tudo seja cíclico, nem sempre dá para enxergar com clareza quando um ciclo está se fechando e outro se iniciando.
Mas e se você fosse avisado que será a última vez? A sua última chance? O que você faria? Se a resposta for: “exatamente a mesma coisa”, você tá no caminho e, acredite, você é exceção. Agora, se você disser que aproveitaria para fazer alguma coisa diferente, você é como todo mundo e talvez seja um bom momento para começar a pensar sobre o que anda fazendo com a sua vida, com o seu tempo e, acima de tudo, com os seus afetos.
A vida não costuma alertar quando alguma coisa vai acontecer ou terminar. Não é como se ela tivesse um sensor que apita quando o combustível está acabando, se fosse assim, se chamaria carro e não vida.
Algumas vezes você pode até receber pistas ou sinais, é o que chamamos de intuição. Mas, na maioria esmagadora das vezes, não se iluda, isso não vai acontecer. E quando/se acontecer, você estará distraído ou ocupado demais para perceber.
Sua última chance de ver, ouvir, falar, tocar ou fazer qualquer coisa não será como um anúncio de geladeira pela metade do preço nas Casas Bahia, com letras garrafais dizendo: NÃO PERCA, ÚLTIMA OPORTUNIDADE!
Acho que a vida funciona assim porque, em parte, ela faz questão de manter a espontaneidade e isso nos obriga, diretamente, a sermos espontâneos e, no fundo, isso até que é bom. Se houvesse uma programação para tudo, a gente também deixaria de se surpreender e, acima de tudo, de aprender. Por mais que algumas lições sejam profundamente dolorosas, a verdade é que a gente costuma aprender bem mais pela dor do que pelo amor.
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