Por Isabela Nicastro – Sem Travas na Língua
As agendas cederam espaço aos smartphones. As folhas de calendário às planilhas do Excel. No entanto, as coisas continuam exatamente iguais. Correria por todos os lados, compromissos intermináveis e um excesso de falta de tempo. Sim, um excesso da falta. Contraditório, não? Em meio a tantas atividades a serem cumpridas, há a falta de tempo para o que realmente importa. As pessoas vivem a reclamar que estão sem tempo. E talvez estejam mesmo. De um tempo para elas, apenas.
Precisamos cumprir as metas no trabalho. Sobretudo, precisamos ganhar a confiança do chefe e dos colegas. Ao chegarmos em casa, as inúmeras atividades não cessam. Pelo contrário, multiplicam-se. Precisamos acompanhar os noticiários do dia, resolver os problemas da internet, ir ao mercado e fazer faxina. Dormimos pouco, pensamos muito. Estamos constantemente “ligados”, contudo, permanecemos desligados para o que é essencial: o encontro.
Vivemos a esbarrar em pessoas por aí, mas não as encontramos. Diante de tantos encontros de negócio, planejados e programados, não há espaço para que os sentimentos fluam. Para que potências e energias sejam trocadas (fazendo aqui uma breve alusão a Spinoza). É preciso que os encontros sejam intensos e só assim poderemos de fato conhecer as pessoas. Poderemos de fato nos encantar, atividade que tem sido esquecida nos dias atuais.
O encantamento é para os tolos. Para os que não tem nada para fazer, dizem por aí. No entanto, é no encantamento que há a troca. Perdemos a capacidade de nos surpreender porque estamos acostumados a cumprir regras impostas por nós mesmos. Diante de tantas obrigações, encontrar-se de fato com o outro parece ser desnecessário. Daí a superficialidade das relações e a mecanização de tudo que envolve o sentimento.
Ao mesmo tempo em que “conhecemos”, descartamos. Deixamos ir porque não conseguimos enxergar motivos para permitir com que fiquem. Tornamos as coisas mais especiais e, por vezes, mais importantes do que os humanos. Objetivamos relações e queremos impor a elas, as mesmas metas que colocamos para os nossos objetivos. Não agimos com o coração porque, na verdade, não consideramos válido o que sentimos.
Infelizmente, enquanto as coisas continuarem desse jeito, continuaremos a nos desencontrar. De nós mesmos e dos outros. O nosso melhor encontro será com o cronograma de compromissos. Dessa forma, não há tempo, nem sentimento que resista.
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