Categories: Jéssica Pellegrini

Tudo o que eu aguentei sorrindo, você não aguentaria nem gritando.

É fácil julgarmos, apontarmos o dedo, supormos e insultarmos. Difícil é pararmos de ouvir no automático e começarmos a escutar, tentarmos compreender e analisarmos a situação. Se colocar no lugar do outro é o primeiro passo da reciprocidade. Afinal, não fazer com alguém o que não gostaríamos de passar, faz com que as atitudes se tornem mais sensatas e maduras.

Agir de forma racional quando o momento é emocional, tornou-se uma tarefa para poucos. O mais comum é encontrar imprudência no lugar da sensatez. Infidelidade fazendo morada no respeito. Convertendo a lealdade em interesse. Os valores mudaram, as pessoas mais ainda. Hoje em dia, muito se fala de amor e a minoria sabe o que é isso. O amor não é descartável ou desprezível, ele é nobre de espírito. É um sentimento que merece atenção e dedicação. Sendo assim, amar não se traduz em um nome, muito pelo contrário, ele é demonstrado através de sorrisos. É uma consequência gostosa.

É perceptível quando os corações estão batendo mais rápido. A respiração fica ofegante, a mão transpira, a ansiedade se faz presente e a voz se cala. É tremor, nervoso e agitação. Pernas balançando, dentes batendo, falta de atenção involuntária. A gente se entrega, por perder o controle da situação. Tentar relutar é uma possibilidade, mas no final da noite, já sabemos onde essa história vai chegar. Resolveremos as brigas na cama.

Nesse momento, ficamos de mãos atadas. As expectativas fazem morada no lugar que estava sem inquilinos. Elas perturbam, são barulhentas e teimosas. Insistem em fazer tudo acontecer exatamente como elas planejam e, dependendo da sorte, pode ser que aconteça como imaginamos. Mas é improvável, nada seguro ou certo. Sabemos aonde podemos e queremos chegar, mas temos que respeitar uma linha tênue entre as nossas atitudes com a do outro. Se cada um fizer a sua parte, ótimo, seguiremos juntos. Caso contrário, abre-se uma lacuna e todo o castelo desmorona. Sem dó nem piedade.

Foi exatamente isso que aconteceu com a gente. Eu descobri, aos poucos, que tudo o que você construiu era de papel. A chuva molhou, a tesoura cortou, você amassou e jogou no lixo. Foi descartável e desprezável, nada reciclável. Nada era concreto de verdades, foi tudo uma mentira transpassada como um conto de fadas. Você foi inconsequente em machucar quem tanto te amava. Quem estava do seu lado, quando ninguém mais se importava. Quem chegava cedo, tarde ou de madrugada, mas que nunca te deixou esperando. Eu era a urgência nos seus casos perdidos. Fui o seu apoio, sua força e servia perfeitamente em você, como uma blusa segunda pele. Você, sem precisar se esforçar, apenas ergueu os braços e me permitiu entrar na sua vida. Ficou justo, pequeno e sufocante. Eu tentei, então, escapar por frestas apertadas. Eu fiquei e continuei tentando. Mas, como tudo que vai, volta, eu descobri que os meus planos eram grandes demais para os seus sonhos egoístas.

Eu aguentei sorrindo, segui acompanhando o sangue escorrer pelas feridas que me causou. Pingava, em doses homeopáticas, só para me fazer sentir o seu desprezo e frieza. E, se te interessa saber, eu senti tudo isso bem lentamente. Você conseguiu o que queria, me mostrar o quanto ficamos iludidos quando estamos apaixonados. Eu fiquei cega, definitivamente, fiz por você o que eu nunca fiz por ninguém. E quebrei a cara, bati a cabeça na parede e, essas sequelas, eu também nunca tinha carregado nas costas. É pesado e desgastante. Sobraram traumas, anseios e receios. Ficou em mim, marcas de um amor que resultou em rancor.

Nem gritando você não aguentaria alguém como você ao lado. Supervalorizar as qualidades é simples, eu quero ver assumir os defeitos. Bater no peito e não se acovardar de tamanha cara de pau. Pedir desculpas, ajoelhar para realizar uma prece e acreditar, verdadeiramente, que você fez tudo certo. Não conforme as suas crenças, mas tentando secar as suas lágrimas, porque você sabe que elas cairão. E, por fim, lavar o rosto e seguir em frente, com orgulho de um alguém que nunca existiu. O meu silêncio traduz o que a sua consciência está berrando. E, como você lida com isso, é um problema, absolutamente, seu.

Aprendi que o meu maior erro foi deixar algumas pessoas ficarem na minha vida, muito mais tempo do que elas mereciam. Afinal, onde nada se espera, a decepção é sempre maior.

Quem nada me acrescenta, nenhuma falta me faz.

Portanto, certas coisas precisam ser acabadas, antes que elas acabem com a gente…

Jéssica Pellegrini

Nunca confie em uma escritora confusa e romântica. As controversas entre um texto de amor e outro de desilusão, podem causar questionamentos pessoais. Consequentemente, sequelas mais graves.

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Jéssica Pellegrini

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