Por Ana Vasconcelos Negrelli – via Obvious
Vivemos numa sociedade em que várias pessoas adoram se meter na vida privada dos outros. Decidem o que é certo e errado de acordo com suas próprias conveniências. E, por outro lado, muita gente deixa de fazer, ou finge que não faz, isso ou aquilo com medo do julgamento alheio. É um círculo vicioso.
Em verdade estamos mesmo é dando muita autoridade a quem não tem, a quem não paga nossas contas, a quem não conhece nossa história e não sabe o que nos faz feliz.
Não raro somos surpreendidos também com os nossos próprios parentes ou amigos que nos apontam o dedo para questões das quais não cabiam julgar, nem se meter, mas apenas apoiar ou pelo menos torcer.
Claro que não estou aqui falando que os conselhos da família e dos amigos não são bons. Muitas vezes são necessários. Falo da intervenção impertinente, não pedida, relativa à liberdade das nossas escolhas pessoais, daquilo que desejamos intimamente, mas que está fora do roteiro padrão que nos é ensinado desde cedo.
O velho roteiro padrão que todo mundo conhece: cursar uma boa universidade, casar, ter filhos, ser bem sucedido na carreira, ganhar dinheiro, ter casa própria, carro etc. Para muitos alcançar tais metas é o ideal de vida perfeita, não há o que criticar, mas acontece que não somos iguais, não possuímos os mesmos sonhos.
Warren Buffett, considerado um dos homens mais ricos do mundo, surpreendeu a todos ao afirmar o seguinte: “eu daria toda a minha fortuna para ser reconhecido como um grande filósofo e não como o homem mais rico do mundo”.
Nem sempre o roteiro padrão é o desejado e sonhado. Quantos artistas geniais se imortalizaram por coragem de romper com os padrões da sua época? E quantos artistas geniais, menos corajosos e mais conformados, a humanidade não deve ter perdido?
Tem a ótima frase de Magiezi que diz: “desde que minha vida saiu dos trilhos, sinto que posso ir a qualquer lugar”. É isso aí! As vezes precisamos sair dos trilhos para tomar o caminho correto, sem medo do julgamento alheio, sem medo de ser feliz.
Geralmente aqueles que têm a coragem de sair do lugar comum são os que buscam a felicidade com fervor. Submetem-se ao julgamento da sociedade? Sim. Sofrem com isso? Talvez. Já os que não têm essa coragem permanecem dando autoridade aos outros, numa busca por aceitação, cujo único preço é a própria liberdade.
Essa semana estava vendo um filme em que uma garota francesa, filha de pais brancos católicos, resolve se casar com um negro imigrante africano. A mãe da moça, apesar de simpatizar com o rapaz, confessa que se preocupa com os futuros netos mestiços e com a reação das pessoas quanto ela tiver que passear com as crianças na rua. A preocupação maior não é com a felicidade da filha, mas com os outros.
O filme retrata a mais pura realidade: o medo dos comentários alheios. Recentemente o escritor Fabrício Carpinejar foi muito feliz ao escrever: “Acabamos nos controlando demais com medo dos outros. Viver com medo é nunca ter nascido. Abençoada seja a loucura do bem. A vida precisa de mais entrega, de mais emoção, de mais autenticidade”.
A melhor forma de combater o preconceito, a hipocrisia e a inveja é buscar a nossa felicidade em qualquer lugar, sem medo de errar. Somos livres e devemos exercer esse direito.
Sim, se for nosso desejo, podemos nos relacionar com pessoas de outras raças ou credos, do sexo oposto ou do mesmo sexo, ter filhos mestiços, adotados, optar em não ter nenhum, casar, não casar, descasar e casar novamente, ser mãe ou pai solteiro, mudar de nome, de sexo, ser empresário, médico, artista, hippie, ser católico, espírita, evangélico, ateu, gordo, magro, enfim ser o que quisermos. Nós podemos!
O que não podemos aceitar é a corrupção, a maldade, o preconceito, a violência e outros males que assolam a humanidade.
O mundo seria muito melhor se as pessoas parassem de julgar os outros e se preocupassem com suas próprias vidas. Contudo, nada mais utópico do que pensar assim. Por isso, cabe a cada um brigar por seus sonhos e por uma vida mais autêntica.
Se somos tão diferentes em comportamento e em relação ao que queremos, como então se mede um homem? “Um homem se mede pela sua coragem. Coragem de ousar, arriscar e sonhar. E viver o que sonhou e continuar, eterno!” (Vitor Hilário)
Só uma mente muito tacanha pode achar que existe roteiro preestabelecido ou receita para a felicidade. Quem já tentou o roteiro padrão e está infeliz é melhor deixar o script de lado e começar a escrever a própria história, seja ela qual for.
Está na hora de sair dos trilhos, abstrair-se da inquisição alheia, e ousar ser feliz!
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