Por Jóyce Bandeira
Gostaria de avisar uma coisa! Venho com tanta certeza dizer algo sobre um terreno que para mim ainda é desconhecido. Não tenho filhos, então posso estar palpitando na educação de uma criança de forma bem errônea. Imagino o quanto deve ser difícil a missão de ser pais, por isso, fiquem a vontade para contribuir com suas opiniões e até me dizer se estou certa ou errada. O texto é a minha visão cheia de opinião, mas sonhando com um futuro melhor e um mundo mais cheio de amor.
Quando era criança, eu e minha irmã ganhamos livros de histórias infantis, daqueles grandões e super pesados com muitos contos e ilustrações. Eram dois livros, um com histórias clássicas, como Chapeuzinho Vermelho e João e Maria, e outro com os maiores sucessos da Disney. Por algum motivo que não sei explicar nunca gostei muito do livro da Disney, achava as histórias bobinhas. Na verdade, acho que tinha um problema com a passividade das princesas, sempre as tornando tão desinteressantes.
Não é interessante pensar que se acreditarmos na existência do príncipe encantado nós não precisamos fazer nada? Se alguém te prende em uma torre, jogue suas tranças e espere por um príncipe, ou, se alguém te envenenar, durma tranquilamente e espere o beijo do amor verdadeiro. Eu só tenho a agradecer a educação tendenciosamente feminista dos meus pais, seja proposital ou não, onde a filosofia era: estude, trabalhe, esforce-se e não dependa de ninguém. Apesar de não ser um mundo tão cor de rosa e romântico quanto o conto de fadas, era inspirador e cheio de amor. E posso afirmar que não gostaria de ser criada de outra forma.
Eu não tenho filhos e não sei se um dia terei, mas imagino o quanto deve ser difícil desconstruir o mundo encantado de uma criança lhe apresentando a vida real. Um mundo onde você vive aprisionado em casa, como a princesa na torre, por medo da violência. É escravizada por uma sociedade injusta, assim como a madrasta fez com a Cinderela, mas, infelizmente, nenhuma fada madrinha aparece com um lindo vestido, carruagem e sapatinhos de cristal para te ajudar a conquistar o príncipe e um maravilhoso castelo. Mostrar a realidade suja do mundo a uma criança que vive protegida em sua inocência deve fazer o coração de uma mãe sangrar.
Permitir que nossos filhos estejam protegidos na fantasia de um conto de fadas pode ser o mais cômodo e o menos dolorido, mas não ajuda a mudar a nossa realidade. Nossas crianças serão os maiores agentes de mudança deste mundo e eu acredito nelas! O problema é que elas só poderão fazer algo a respeito quando conhecerem a verdadeira história.
Se hoje eu tivesse uma filha gostaria de contar para ela a história de Malala, poderia até chamar de princesa Malala. Por que não? Gostaria de contar como ela gostava de estudar e lutou pelo seu direito de ir à escola, mesmo com poderosos e violentos homens maus dizendo que não. Contaria que eles tentaram calar a princesa Malala, mas não conseguiram. Malala chorou e sentiu medo, como qualquer pessoa, mas ela era uma princesa muito forte. Ela queria estudar, por isso usou a sua voz e lutou muito para que isso acontecesse. Não ficou esperando pelo príncipe encantado.
Eu acredito que se tivesse uma filha, ela não precisaria de Cinderelas, Belas Adormecidas e Brancas de Neves. Minha filha precisa de Malalas! No conto da princesa Malala também existem pessoas más, como nos contos de fadas, a diferença é que no final quem os enfrenta é a própria princesa.
Por favor, não me entendam mal. Não existe nada de errado com o príncipe encantando. Como 28 anos vividos aprendi que existe uma linha tênue entre ser independente e ser egoísta. Não quero ensinar para minha filha que ela não precisa de ninguém, mas que sim, se pode lutar por tudo que sonha. Eu não quero mostrar para a minha filha a passividade de uma princesa da Disney, eu quero que ela conheça a força da Malala.
Quando eu li a história de Malala pensei “Nossa! Como uma criança tão pequena pode ser tão forte!”. Essa menina tão corajosa é a mais jovem ganhadora de um Prêmio Nobel da Paz e em seu discurso disse: “Eu tinha duas opções, a primeira era permanecer calada e esperar para ser assassinada. A segunda era erguer a voz e, em seguida, ser assassinada. Eu escolhi a segunda. Eu decidi erguer a voz”. Quando li isso quis abraçar Malala. Quis agradecer a aquela criança por me defender e por defender o direito das minhas futuras filhas.
Eu sei que princesas, príncipes e contos de fadas motivaram meninas por muitas gerações e renegar nossas Cinderelas e Belas Adormecidas é quase como trair uma parte da nossa infância. Mas estamos vivendo um importante processo de mudança, principalmente para nós mulheres, e acredito que chegou a hora das nossas princesas transformarem a sua história e inspirar nossas filhas de outra forma.
Para ler mais da autora acesse Obvious / joycebandeira.com.br
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