Tenho reticências que vão sendo jogadas por onde eu passo, feito pegadas. Apenas mais um sinal do quanto sou incompleta. Aqui e ali, vou me desfazendo e precisando voltar para recolher os retalhos. E olha, haja linha e agulha para juntar todos os meus trapos.
Mas o que não me falta é essa mania de nunca desistir. É cada “não” que a gente acumula durante a vida. E estou aqui, graças a melhor qualidade que eu tenho, que é insistir em ser feliz a qualquer custo. É muito mais cômodo se fazer de móvel, ficar parado igual criado mudo e assim, ter certeza que nada vai dar errado. Eu não! Eu gosto é de abrir as janelas, deixar o ar entrar e levar consigo qualquer sinal de monotonia.
Dá medo sair pela porta, eu sei. Aqui dentro é tão quentinho e conheço cada canto de cor. Lá fora eu preciso descobrir e lidar com todos os imprevistos. Ainda sim, reconheço que o meu lugar e não é aqui. Na verdade, também não é lá. Eu pertenço a tudo que conheço, a todos os lugares que já passei e quanto mais longe vou, maior eu fico.
Sou retalhos, sim. Sou caco de cada canto que fui e me quebrei. Ando tropeçando em cada erro meu, mas continuo andando. Inúmeras vezes quis dormir e acordar dez anos depois quando tudo estivesse resolvido. Mas de nada teria valor. Pois, o erro não está no mundo, não está no contexto ou no tempo em que se encontra. O erro está em nós. Ainda que o tempo passasse sem a nossa intervenção, a qualquer sinal de movimento, tudo estaria exatamente igual. E caberia a nós, de novo, olhar para dentro e encontrar um jeito de contornar o que nós aprisiona e aprender a caminhar de novo, mesmo com as pernas bambas, com o coração batendo eufórico e mesmo sem saber para onde ir.
Eu tropeço nos meus próprios erros, cada gesto me consome. Tentei várias vezes entender como conseguia ser tão errada, de onde saíam tantas más decisões e depois de muito me culpar entendi o motivo de tudo. E a resposta me atingiu por ser tão simplória, tão incrivelmente clichê e por estar tão na cara esse tempo todo: sou feita de carne osso.
Posso ser tudo o que sou, posso espalhar todas as minhas reticências a parênteses mal feitos, pois sou apenas um ser errante. De vez em quando eu acerto e quando acontece, chego a me inebriar com tamanha surpresa. Mas é no tropeço que eu acerto o passo. É dentro dessa bola gigante de bagunça que faço morada, que sempre consigo encontrar a saída. É exatamente pelo fato de que a minha cabeça trabalha a mil por hora, sem folga, sem pausa para o suspiro, que eu consigo pensar em um jeito de sair da linha de campo e retornar ao jogo.
Sou humana. Sou real.
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