Por Mario Feitosa
OKAY, mea culpa: não existe “ninguém”, assim como não existe “todo mundo”. É fato que “toda generalização é perigosa, inclusive esta”, como bem disse Alexandre Dumas, mas também é fato que sempre há regras, ainda que nelas haja exceções. Se o que segue é a tal regra ou a tal exceção, aí são outros quinhentos.
Ninguém é solteiro por opção, como já escrachei no próprio título, mas sim por falta dela. Levante a mão aí quem deixaria passar a paixão mais visceral, pela pessoa mais incrível do mundo, quase desenhada pela imaginação, a troco da tão lindamente vendida “solteirice satisfeita”, que, no fundo, [pela boca de um solteiro satisfeito], não é muito diferente de pilhas de livros, jantares solitários, conversas psicóticas com bichos de estimação e muito, mas muito Chico Buarque. Toda a pseudo-filosofia que corre em torno da solteirice satisfeita, de “Conhece-te a ti mesmo” (Tales de Mileto), “Seja sua melhor companhia” (Jô Soares), “Ame-se em primeiro lugar” (autor desconhecido), não só é verdade, como, na verdade, é saudável p’ra caralho! Mas não é mérito ou louvor dos “solteiros satisfeitos”; é, e deve ser, a máxima absoluta de qualquer pessoa, saudável ou não, mentalmente. Quem não se ama não ama, não a outra pessoa, mas não ama o mundo, não ama os animais, não ama arte… Quem não ama, não vive! E quem não vive, vivendo, vira zumbi! E zumbi é feio demais!!!
Não vejo nada de errado, ou feio, mas também nem louvável, em pedir uma mesa para um num restaurante bacana, e, pedir minha garrafa do meu vinho favorito, meu prato predileto, e pedir que acendam velas, enquanto puxo um caderno e caneta, e começo a escrever loucamente, lá no restaurante bacana, ou ponho os fones de ouvido, e bato os pés, ouvindo minha banda favorita da noite, enquanto aprecio meu jantar maravilhoso. Claro que os olhos dos casais vão me comer, enquanto como. Aliás, isso é o que mais acontece, e não só me divirto, como acho terrível que, com uma pessoa do lado, ou à frente, eu consiga ser mais interessante, misterioso, que seja bizarro ou fascinante que aquela pessoa. Sério: se você saiu para jantar com seu marido, namorado, encontro, e consegue tirar os olhos dele p’ra contemplar a minha “solidão satisfeita”, troca de par ou fica sozinha, porque eu, “solteiro satisfeito”, se tenho um par de olhos à minha frente, ou ao meu lado, só tiro os meus de dentro deles p’ra ir ao banheiro, e olha lá se não vou de fralda, p’ra não ter que levantar.
Assim como no restaurante, não vejo nada de estranho em ir para a balada para beber e dançar, e curtir um show ou DJ ou o cheiro da noite [eu sou apaixonado pela noite], ou mesmo só para sair de casa, da minha pilha de livros, dos meus jantares solitários, das minhas conversas psicóticas com meu cachorro e de muito, mas muito Chico Buarque, e não “pegar” ninguém [na boa, eu pego doença, não pessoas… Cada um sabe de si, do seu momento, todo mundo com mais de dezoito é adulto e sabe de suas escolhas… Eu, sabendo das minhas, não “pego” ninguém], e voltar p’ra casa bêbado e cansado no táxi, sozinho, porque é “solteiro satisfeito”, “solteiro convicto” e, sim, a gente faz isso com uma freqüência assustadora, porque, no fundo, todo “solteiro satisfeito” é livre p’ra caralho! E essa liberdade, sim, é nosso louvor.
Como “solteiros satisfeitos”, acho que falo por todos, não aceitamos meias-companhias, meias-paixões, ou gente bicho-de-pelúcia, p’ra abraçar quando se está carente. Acho que todo “solteiro satisfeito” já perdeu tempo, saliva e esperança em meios romances, e, hoje, sem saco, perto ou depois dos trinta, não deixa ninguém entrar se não tiver potencial suficiente de ficar, porque no fundo todo “solteiro satisfeito” é um amante visceral, e não gosta de expôr suas vísceras ao léu. Esse é outro ponto louvável na nossa “solteirice satisfeita”. Melhor sozinhos do que mal acompanhados [e é aqui que me estarrece a moça da mesa ao lado, ignorando a companhia p’ra assistir minha solteirice].
Agora, defesa da tese, e me condenem os “solteiros satisfeitos” que discordarem: se a mulher dos meus sonhos aparecer, toda minha pseudo-filosofia de “solteiro satisfeito” vai-se embora num piscar de olhos, ou melhor, num encontro de olhos, e eu vou Caetanear toda minha Buarquice, como o próprio Chico fez quando escreveu: “Chego a mudar de calçada quando aparece uma flor. E dou risada do grande amor. Mentira!”. Bem disse Tom: “fundamental é mesmo o amor”, seja ele o próprio, ao tal bicho de estimação que, coitado, ouve suas teorias, seus murmúrios e suas sandices toda noite, “entre copas”, ao mundo, à arte, enfim. Amor é bom, sempre que for de verdade.
Ninguém é, por fim, solteiro por opção, senão por falta dela, porque quando há uma opção adequada, ninguém quer ficar solteiro ;).
Para ler mais do autor acesse Obvious – Sete tons mais tudo que há no meio
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