Dói perder quem a gente ama, eu sei e qualquer criança sabe. Mesmo que ninguém nos informe sabemos do sofrimento que o desamor causa. Que desgraça foi quando minha primeira namorada iria embora da cidade, morar bem longe, eu fiquei mal de não querer comer. Não vamos ridicularizar o sentimento de quem sente a falta de alguém, isso é luto e luto é uma readaptação brusca ao ambiente.
Repito, dói e dói demais. Porém, nobres poetas doentes de romantismo, essa vida segue sim.
Quando alguém diz “eu não vivo sem você”, soa mais pra mim como uma declaração suicida do que de amor. É um recadinho romântico que diz “Olha, fique aqui comigo ou eu vou morrer e você será a culpada!” Quantos relacionamentos estão por aí sustentados por esse tipo de ameaça poética?
Responsabilizar o outro pela sua sobrevivência na Terra não deve ser visto como parte de um amor incondicional. Aliás, quer condição mais nítida para um amor acontecer.
“Eu não vivo sem você!” também quer dizer que “se você me deixar, eu vou morrer e o amor que eu digo sentir por ti, vai morrer junto comigo.” Morrer “por amor” nesse contexto é só uma forma doentia de deixar de amar.
Eu viverei sem as pessoas que amo hoje, caso elas precisem partir. Ficarei triste, muito triste, mas minha tristeza não irá guiar minha vida pra sempre. Quem eu amo, amo por não ser meu, por não estar debaixo do meu controle. E a melhor declaração que eu acho possível fazer é “Eu te amo tanto que se você partisse, eu iria me cuidar pra continuar vivo em mim meu amor por ti”.
É um verso mais saudável, não?
Desnecessário justificar sua vontade de morrer usando a partida das pessoas que você ama. Cuidar de si mesmo é a melhor maneira de agradecer a alguém que te fez bem. Nessas horas que sentir vontade de morrer caso a coisa amada vá embora, escreva suas frases insanas, pode dar boas poesias melancólicas, mas pela sua saúde procure um psicólogo. De tempos em tempos, fantasias do tipo podem atravessar suas ideias e minar bons momentos nas suas relações. A terapia está aí para isso, vá numa boa, a cabeça precisa tanto de escovação e limpeza quanto os dentes.
Claro que uma pessoa pode dizer essa frase sem a intenção ou real vontade de expressar a dependência aqui apontada, claro.
Mas se acontecer de alguém lhe dizer com sinceridade e vigor;
“Sem você eu não sei viver!”
Abrace a pessoa, dê um beijinho na testa e diga com muito carinho;
– Sabe sim, tá?
A capa é uma cena do filme Portrait of Jennie, de 1948, que trata de uma dessas histórias de amor e obsessão.
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