Por Paulinho Rahs – Via Sábias Palavras
Pode ter certeza que uma hora dessas você vai receber um repentino golpe. Isso vai abalar suas estruturas, sacudir seu mundo, te puxar de volta ao chão. E aí você vai se dar conta de que o passado parecia mais seguro, só que agora é impossível de voltar pra lá. Então fazer o que? Entender, meu amigo. Entender que nós não pertencemos a lugar algum: ces’t la vie. Essa é mesmo a vida.
Não há como saber se amanhã seu dia vai ser no inferno ou no céu. Por isso tenha em mente que é preciso fazer todas as coisas que você quer. Planejar? Ok. Agora cuidado: adiar é perigoso. Muito perigoso. Adiar implica em consequencias por vezes irreversíveis: a dúvida de que o tempo pode acabar. Já que nosso cronômetro está correndo rumo ao zero e todo mundo consegue viver nessa fantasia de que a própria morte não chegará, tenha em mente que a melhor resposta que você pode dar ao tempo é o sarcasmo. Ele está correndo? Então corra mais. Corra e dance, faça um milhão de coisas, zombe da cara do tempo. Viva nas nuvens mesmo. E nas horas em que ele resolver se arrastar, ironize. Concentre-se em algo e use aquele tempo que não passa para fazer da melhor forma possível.
O tempo não sabe aceitar brincadeiras, não gosta da nossa zoeira. E então ele vai nos aprontar: vai nos tomar coisas, pessoas, momentos preciosos. Até que pouco a pouco ele vai tirar a juventude de nós, querendo que a gente se entregue, baixe a guarda, entre numa depressão medrosa. Chamam ele de “senhor da razão”. Pois bem, eu respeito ‘senhores’; eles tem muito a nos ensinar. Porém senhores, em geral, não gostam de subversão e anarquia. Deve ser por isso que o tempo tem me dado as costas: eu simplesmente levanto após as suas rasteiras, dou um risinho e sigo o baile.
Tinhamos tudo para viver numa briga: ele me levando amigos e amores, me trazendo rugas e entradas no cabelo, e eu respondendo com ironia. Ele quer me destruir, mas quanto mais ele insiste em passar mais eu vou ficando maduro, aprendendo coisas, me tornando mais sábio. O tempo não deve mesmo gostar muito de mim. Enquanto os outros vão se rendendo à ele, eu corro duas vezes mais. Me jogo de cabeça nos seus precipícios de escolha e grito em tom de deboche: ces’t la vie.
O tempo não fala francês, mas mal sabe ele que eu também só decorei esta frase: Essa é a vida.
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