Ontem estava passeando pela televisão quando me deparei com um consultor financeiro, Gustavo Cerbasi, falando um pouquinho sobre finanças. Para minha surpresa a sua primeira recomendação para que duas pessoas comecem a ajeitar as contas em casa é perguntar ao parceiro se ele está feliz.
Confesso que fiquei surpresa com a orientação. É incrível imaginar como uma pergunta tão simples pode ser tão profunda.
Se voltarmos no tempo, não nos será difícil reparar que foram bem poucas as pessoas que nos perguntaram se estávamos felizes. E se essa pergunta nos tivesse sido feita mais vezes, certamente muitas situações angustiantes pelas quais passamos, poderiam ter sido evitadas.
Para mim ficou claro que perguntar sobre a felicidade é importante não só para consertar finanças, mas também para consertar relações.
Me lembro de ter ouvido essa pergunta pela primeira vez em uma palestra motivacional para a qual um antigo emprego meu mandava os funcionários que, de acordo com a política do lugar, mereciam ser punidos. Quando as inscrições para as palestras chegavam, todos se escondiam e a chefe sentenciava uma vítima. Naquele dia eu fui a escolhida.
Então lá estava eu em um auditório improvisado, no raiar do dia, esperando a palestrante que, dentre outras coisas, falaria de técnicas de mergulho e de relacionamentos. Nunca encontrei relação alguma entre mergulho e trabalhos burocráticos, todavia, esse era o script.
Então, entre uma orientação de mergulho, uma citação acerca de sua mãe e outras coisas mais, a palestrante me apontou e pediu que eu lhe respondesse algo. Ela me perguntou: Você é feliz?
Seria tão melhor se essa pergunta me tivesse sido feita por meu pai, por meu primeiro namorado, por minha melhor amiga, por mim mesma, antes de ter sido feita ali naquele ambiente.
Perguntar sobre a felicidade sempre resgata um mundo de sensações e a primeira resposta, a mais iminente, é aquela que é pronunciada através da expressão do rosto. Se os olhos se enchem de lágrimas, mesmo que um balanço de cabeça aponte que sim, a resposta certamente é não. Se um sorriso se desenha não só nos lábios, mas nos olhos também, a resposta é sim.
Mas naquele momento, solteira não por opção, mas por ter meus anseios amorosos pisoteados, em um emprego que nunca foi o dos meus sonhos, sofrendo uma série de retaliações por ser criativa, a resposta logicamente era não.
Então eu me lembro de ter desengasgado as palavras que estavam presas em minha garganta e com um sorriso forçado disse que sim, que era feliz. O correto seria dizer não, mas compreendi que aquele não era o momento para me alongar.
Desejei depois daquilo que alguém me tivesse feito aquela pergunta no aconchego do lar, na ternura de um afago romântico, no entrelaçar de braços amigos, mas bem poucos perguntam sobre a felicidade. Grande parte de nós não está preparada para ouvir uma resposta que não seja afirmativa.
Contudo, para que a gente comece a desatar os nós da nossa vida, perguntar sobre a felicidade é um excelente ponto de partida.
E por mais que doa ouvir do outro ou de nós mesmos que não estamos felizes, esconder a verdade por muito tempo, seja ela sobre finanças ou sentimentos, inevitavelmente traz muito sofrimento. E esse sofrimento é aquele que faz doer não só o bolso, mas, sobretudo, o coração.
Você está feliz?
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