Categories: Jocê Rodrigues

O fim chegou, e agora?

Período pós-término é barra! Que atire a primeira pedra quem nunca procurou um ombro amigo pra sujar de meleca de nariz fresquinha depois de levar, ou até mesmo de dar, um belo pé na bunda.

Em tempos assim, é como se a gente subisse a bordo de uma montanha-russa emocional. As memórias se alternam. Uma hora, o ato de pensar no gosto do primeiro beijo gera nostalgia e no outro, vontade de cometer um homicídio doloso. Todo fim é como uma negação do que quase aconteceu. As viagens não feitas, os sonhos não realizados, os presentes não comprados. Essa ausência futura pesa feito chumbo em nosso itinerário de projeções.

A bagagem inexistente, os beijos adiados e as brigas não realizadas. Tudo isso ganha imenso valor nos momentos que sucedem o término de uma relação. Eu sei como é. Tem horas que dá vontade de rodar o mundo, fazer amigos poloneses, adotar um guri do Senegal, falir o mercado de drogas de Amsterdã e dar uma passada no Haiti pra fazer aquele voduzinho básico. Mas aí vem a conta bancária com um sorriso malicioso e diz: nope!

Mas nada se compara aos impulsos de ligar para o recente-ex-amor-da-vida-toda durante uma madrugada de porre, mandar mensagens com trechos de músicas do Só Pra Contrariar ou mensagens de voz com Kenny G tocando ao fundo. É, meus amigos e amigas, falar que não faz isso é fácil. Difícil mesmo é segurar a emoção quando começa a rolar aquele pagodão 90, aí não tem cuore que aguente.

É que, às vezes, lembrar do outro depois da separação torna-se um martírio, um suplício que nós, eternos devotos da saudade do que não foi, gostamos de nos infligir. Afinal, o que é uma dúzia de chibatadas nas costas em comparação com todos os planos de “eu, você, dois filhos e um catioro” não realizados?

Existem também momentos em que a gente se sente metade. Da laranja, do copo, da bolacha, da vida, do paralelepípedo (palavra que costumo usar pra preencher os números de caracteres necessários para um artigo como esse) ou só metade da gente mesmo. Esperamos que outra pessoa venha nos completar – do mesmo modo como se faz com aqueles quebra-cabeças de um zilhão de peças e que normalmente formam alguma paisagem que de tão bucólica chega a ser broxante, em algum lugar do mundo que meu bolso jamais me dará permissão de ir.

No entanto, é preciso lembrar que não somos nada disso. Se você ainda se apoia nessa ideia de alma gêmea, é bom pensar com mais carinho no assunto. Porra, Fábio Jr. canta isso faz um século e a dele ainda não chegou e olha que ele já deve estar cometendo o décimo quinto casório.

No fim de tudo, o senhor Raimundo Fucking Fagner, ou Fagnão para os mais íntimos, é quem estava certo. O cabra (mulheres inclusas) pode ser forte, valente, nadar em rios de dinheiro ou de jujubas de tutti-frutti, mas basta a lembrança de um simples beijo pra se debulhar em lágrimas. Não escapa um!

Jocê Rodrigues

"É escritor e editor".

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Jocê Rodrigues
Tags: fim

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