Categories: REFLEXÕES

As vezes eu me chamo para passear, e vou desfilando com a minha solidão por aí

por Lia Holanda

Estar só não é para gente que transforma tudo em um dramalhão mexicano, e sim para quem sabe ver de ângulos diferentes, sem se sentir vítima do destino. Abaixo aos vínculos pela metade! Esteja inteiro nos momentos com você mesmo, se enfrentando sem medo, sem máscaras e Smartphones!

Como ser capaz de lidar com a solidão em uma sociedade que é regida pelas aparências? E nesses 8748364 e muito mais de pessoas pelo mundo, muita gente prefere estar mal acompanhado para não aparentá-la, mesmo sem ganhar uma verdadeira companhia nessa dança de relacionamentos mimetizantes, que só servem para pessoas que querem se esconder de si mesmas, e fazem diversos malabarismos para manter relações que desafiam até a lei da gravidade. Inundados de amor líquido, estar só começa a ter conotação de fracasso, esquisitice ou problema, mas porque você não pode aparentar a solidão estando muito bem acompanhado? A partir daí começa aquele teatro: vida virtual, milhares de amigos, aquisições pessoais e nenhum significado. Aparecer sozinho em um lugar pode significar tanta coisa, isso vai falar mais do entendedor do que de você mesmo, por que não se permitir dar as mãos para você mesmo? O que eu falo aqui, longe de um egocentrismo idiota, é mais um gesto de ser uma boa companhia para si . Passe uns minutinhos ou horas exercitando o diálogo interno, crianças são especialistas nisso, e não é a toa que as vezes sentimos saudade daquelas épocas remotas. Como diz Clarice, a solidão tem lá sua plenitude: ” Que minha solidão me sirva de companhia, que eu tenha a coragem de me enfrentar, que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo”.

Eu gosto de andar por aí, sem marcar data nem horário, um encontro casual e inesperado, caminhando livremente com o vento batendo em meus cabelos, seja acompanhada de uma boa música, ou ouvindo a música dos dias. Começo a lembrar de tudo que eu já vivi até aqui, os figurantes ganham a cena principal, e visualizo fantasiosamente todas as pessoas que já estiveram ao meu lado nessas andanças. Algumas eu quero que estejam mais vezes, outras me presentearam com questionamentos e me deixaram em dúvida, ou me deram certezas demais, e por fim um outro grupo das que eu prefiro correr para bem longe. Uma caminhada com você mesmo é sempre muito reveladora, os momentos de introspeção devem ser divertidos, qual é o sentido de fechar a cara e se isolar ao estarmos ao alcance dos olhos dos outros, estando acompanhados somente dos nossos? Como dizia Jung quem olha para fora sonha quem olha para dentro acorda, e ao meu ver o despertar precede muitos encontros de valor inestimável.

Daqui em diante, eu só quero lembrar das boas companhias, que tem o dom de transformar horas em minutos, e para mim que sempre tive aversão a relógios e aquele tic- tac nervoso, esse fator está presente em todos os meus argumentos pró- existência. Que tal sentir o que te cerca, observando e se deixando observar sem medo, sem máscaras e sem precisar estar acompanhado? Vai sem medo! No começo é assustador mas depois o encontro vai ficando cada vez mais interessante, e você não precisa pagar a conta, o preço ainda não foi lançado no sistema.
E o que eu aprendendo nessas andanças? Só anda comigo quem se apaixonar pela minha solidão e vice-versa.

A Soma de Todos Afetos

Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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