Os dias tristes fazem parte do calendário. Às vezes, por algum acontecimento indesejado ou acidente na rotina das lembranças, acionamos o botão errado e as memórias doloridas nos assaltam por completo.
Cabisbaixos, recuamos, e sofremos novamente a dor daquele antigo corte, que julgávamos não mais existir.
A única saída é fugirmos para o aconchego daquele canto que é só nosso e nos debatermos em sigilo.
Então, fechamos as portas, ficamos indisponíveis para os sorrisos, convites e visitas.
É quando acessamos, mesmo sem querer, as camadas mais profundas do nosso ser, os interstícios secretos onde algumas dores repousam.
Nesse estado de quietude, conhecemos mais da matéria volátil que somos feitos. Nos damos conta da nossa vulnerabilidade e apalpamos sem medo o volume das emoções.
Percebemos o quanto somos melindrosos quando não falamos sobre o que nos emociona, sobre o que nos ameaça e cala, sobre o que dói.
Com essa atitude corrosiva e silenciosa, vamos construindo camadas cada vez mais sólidas e inacessíveis. Às vezes, nem o choro consegue demolir essa formação rochosa dentro da gente.
Por que nos distanciamos tanto de nós mesmos e não cuidamos da parte mais luxuosa do nosso ser, a nossa alma?
Eu sei… existem aqueles dias feitos para chorar e dormir, deixar-se embebedar no choro e ir dormir sentindo os respingos das lágrimas no travesseiro.
O bom companheiro sempre estará lá, macio e aconchegante, como um abraço fora do corpo, uma carícia ambulante que não perturba dizendo que tinha avisado. Nessas horas, o sono depois do choro é a melhor coisa que existe.
Você conta com o óbito, pensa que nunca sofreu tanto assim, mas amanhã é dia de ressuscitar de novo, e a ressaca da tristeza sempre ajuda a lembrar que você está mais vivo que nunca!
Você só “morreu” por alguns instantes… desmoronou! Afinal, você não precisa ser herói de ninguém. Precisa apenas se salvar de algumas limitações que impõe a si mesmo. Não adianta disfarçar e fingir que não está doendo olhar pra dentro agora e se deparar com o que você ignorou durante tantos anos…
Permita-se “ressuscitar” sempre que sentir-se em ruínas. Sempre que cair, sempre que doer… Afinal, esse tipo de “morte” é o mais indicado nesses casos. A retirada silenciosa em direção àquilo que você é, o salvará de ser negligente com a própria vida.
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