Sabe aquelas pessoas que tratam seus animais de estimação como se eles fossem da família? Nunca fui eu. Quer dizer, eu tenho um carinho por todos os animaizinhos, mas não vai muito além disso. Na minha família sempre tivemos animais de estimação, cachorro, gato, peixe, coelho, passarinho, tartaruga e um jovem avestruz chamado Aloncio. Pessoalmente eu sempre preferi os gatos – por serem mais independentes e terem um senso de humor sarcástico. Nunca conseguia me ver responsável por um cachorro, por exemplo, porque sei que não atenderia os níveis de fidelidade e comprometimento que eles exigem e merecem. Já o meu irmão, no entanto, sempre amou cachorros, e foi assim que o Django chegou à nossa história.
O Django foi abandonado no posto de saúde que meu irmão trabalhava, atropelado e todo desgraçado. Não devia medir mais que 15cm de pura bicheira e tinha a maior barriga de vermes que eu já tinha visto. Meu irmão, que inicialmente pegou o filhote para ajudá-lo e depois colocá-lo para adoção, apaixonou-se pelo vira-lata desnutrido. Lembro que quando nos encontramos, desaconselhei meu irmão a ficar com o Django, em virtude de seu trabalho no hospital e sua rotina de plantões. Ele não titubeou, e muito menos o Django. E assim, os dois passaram por um ano inteiro de provas finais dos últimos semestres de medicina e longos turnos de separação por conta dos plantões. O Django tolerava pacientemente as horas longe do dono ao lado da porta de entrada do apartamento do meu irmão, e celebrava cada reencontro como se fosse o último.
No início do mês passado, quando o meu irmão fez sua passagem para o plano superior, foi o Django que me avisou do acontecido. Chorava inconsolável dentro do apartamento, enquanto eu chorava do lado de fora tentando entrar. Ele não latiu como fazia sempre que percebia alguém na porta. Ele chorou pedindo ajuda quando viu que o dono passou mal. Aquele pequeno ser de quatro patas foi o último da nossa família a se despedir do meu irmão. Sim, da família. Por que tamanha devoção merecia o meu respeito.
Durante o processo de despedida, o Django seguiu confuso e atrapalhado, da mesma forma como cada um de nós. Depois do que foram os dois dias mais longos da minha vida, entre velório, enterro e longas horas de lágrimas, me joguei na cama do meu antigo quarto na casa da minha mãe e adormeci luto adentro. Acordei horas depois para encontrar o Django montando guarda no pé da minha cama, latindo para cada pessoa que se aproximava da porta que protegia o meu descanso.
Desde então o Django nunca mais largou de mim. E eu sei que esse comportamento não tem nada a ver com nossa afinidade – quer dizer, eu gostava do cachorro, o achava bonitinho, mas nunca fiz nada para merecer sua devoção – não fosse a minha própria devoção pelo dono dele. Era como se meu irmão tivesse me deixado um anjo da guarda de rabo, pulgas e olho piratinha.
Durante o período que passei na casa da minha mãe aquele cachorro nunca me deixou sozinha. Vigiava meu sono chorado, assistia minhas refeições e deitava ao lado do box a cada banho. Eu nunca mais fiz um xixi sozinha desde que o Django me adotou. Quando me encolhia na sacada para chorar vendo as estrelas, ele sentava sobre os meus pés e olhava o céu comigo, o tempo que fosse. Não foi uma, mas várias vezes que acordei na madrugada com ele lambendo minhas lágrimas, quando tinha o sono agitado pela dor. Era como se ele soubesse melhor do que eu como eu precisava de ajuda. Como se entendesse a falta que fazia o meu melhor amigo – melhor amigo dele também.
O Django passou a morar com a minha mãe em definitivo, numa casa grande onde ele corre faceiro e meus irmãos mais novos o enchem de amor. Volta e meia pego minha mãe abraçando o peludo com lágrimas nos olhos, ou meu pai deixando o cachorro lamber toda a cara dele. Sempre que visito o Django, é fácil lembrar da alegria que meu irmão me trazia. E nos dias em que a tristeza é mais forte, eu corro pra dormir na casa da minha mãe, onde o Django toma seu lugar de prontidão ao lado da minha cama. Ele larga o conforto da caminha dele para garantir meu sono tranquilo. Cheio de sonhos de saudade, mas sob a vigília dele, mais tranquilos.
Eu entendi que preciso do Django para superar a maior perda da minha vida. E de fato, confesso que de toda ajuda que eu recebi nos últimos dias, foi com ele que me senti mais próxima do meu irmão. Com seus olhinhos tristonhos, mas cheios de carinho como quem diz “fica tranquila, huMANA, eu vou cuidar de você”. E ele tem cuidado, da mesma forma como fez com meu irmão, e meu irmão com ele. Então hoje se todos os cachorros do mundo pudessem me entender da forma como sei o Django me entende, diria: “adote um humano! A gente precisa muito de vocês.”
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