Normalmente, não nos damos conta do mundo à nossa volta e este está fadado à certa invisibilidade, a única coisa visível é onde temos que chegar e o caminho que temos de realizar, o que acontece nele passa despercebido.

Na correria do cotidiano quem tem tempo para olhar algo? Temos coisas para fazer: obrigações, responsabilidades, projetos, planos para o futuro, mas talvez, a valorização excessiva de certo futuro possa, consequentemente, fazer com que nos tornemos seres apressados.

Seres apressados não se importam com nada além do que lhe convém, ou seja, o tempo e o que deve ser feito. Afinal, de que importa as pessoas que estão andando perto de mim? De que importa a música que é tocada por alguém na calçada? De que importa o canto dos pássaros? De que importa o que está escrito na parede? São acontecimentos aparentemente inúteis, mas me parece, que sua relevância surge quando estamos abertos, isto é, vivendo sem pressa.

Agora, pare e reflita, o que realmente é a sua pressa? Normalmente quando fazemos algo com pressa é porque aquilo que fazemos é uma obrigação, algo que deve ser feito, o tempo vira um carrasco e cada segundo parece ser uma perda.

Mas e se formos pensar o outro lado? Sentimos pressa quando estamos fazendo algo que gostamos e que nos deixa feliz e contente? Acredito que não, e melhor ainda, nem pensamos no horário, esquecemos totalmente que existe algo chamado “hora”, a pressa não ousa dar as caras, o que toma conta é uma sensação intensa de alegria.

Você pode falar “Bom, mas eu tenho responsabilidades, tenho metas à cumprir, tenho contas para pagar, projetos para entregar e outras mil coisas! Quem não tem pressa são as crianças que não tem nada para fazer!”.

Eu entendo, é claro que temos de ter noção das nossas responsabilidades, problemas, preocupações, planos, mas este não é o ponto que quero abordar, estou falando de viver com pressa. A pressa para que segunda-feira acabe, a pressa para que sexta-feira chegue, a pressa para dar a hora do almoço ou do intervalo, a pressa para chegar em casa, a pressa para que chegue o feriado, a pressa que apressa nosso viver e nada mais.

E se formos falar de crianças, já aviso, sou romântico por natureza. Portanto, protegerei as crianças e a sua inocência, pois, sábias são elas, elas não culpam os dias da semana criando heróis e vilões entre eles, elas nem sequer se dão conta de que dias tem nomes, dias são dias, e elas vivem cada um deles sem apressar nenhum.

Se vivemos com pressa, nossos dias passam e nem percebermos. Nossa existência se torna passageira e nem sequer notamos o que existe também a nossa volta, para mim, viver com pressa é perder. Perder como aquele cara estava todo empolgado cantando “Rolling in the deep”. Perder alguém fazendo a melhor versão de “Águas de março” que você já ouviu. Perder dois pássaros que parecem estar em sua lua de mel pela cidade. Perder uma frase que teria lhe acendido uma chama no peito.

Que tal aprendermos com as crianças? Olharmos o mundo ao nosso redor e percebermos o quanto estávamos apressando a nossa vida? Afinal, um dia vivido com pressa, é um mais um dia perdido e em direção à nossa inevitável morte.

Devemos sempre lembrar, se temos somente uma vida para ser apreciada, vamos transformá-la em algo leve e fazer com que nossos maiores vilões, o tempo e os dias da semana, se tornem meros figurantes neste cenário de uma vida vivida sem pressa.

Mike Akama Mazurek

Mike A. Mazurek, formado em Comunicação e Mestrando em Comunicação e Práticas de Consumo, futuro professor e escritor pelo prazer da vida.

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