Livros em estantes me lembram desejos. São como encantos que precisam ser dedilhados para que realizem suas primorosas magias.
Uma estante de um hotel resguardado por um bosque, uma prateleira na casa de um amigo, uma livraria ou sebo, uma biblioteca grande ou diminuta são espaços encantados, repletos de poções ao alcance de nossas mãos.
Quando livros se apinham em nossa frente é válido que apuremos nossa percepção, e assim notaremos, surpresos, seus melodiosos chamados.
Livros desejam. Querem ser possuídos, clamam por serem escolhidos, tomados, folheados. Querem que grifemos neles nossas passagens preferidas. Livros amam confluir conosco, como se fizessem amor com nossos pensamentos.
Que me perdoem os sex shops da vida, mas o desejo mora ao lado. O desejo se esconde primoroso nas páginas que dedilhamos. Que me perdoem os amantes das performances sexuais, mas não só elas garantem que o coração dispare. Um bom livro também.
O cheiro de um livro em uma longa tragada é entorpecedor. A textura de um livro já lido inúmeras vezes guarda não só enredos, mas histórias daqueles que em algum momento estiveram no mesmo ponto que nós. Livros guardam marcas de deleite. E ao encontrarmos ranhuras de outro em uma página, encontramos um indício de que ali deitou um caso de amor. Uma ranhura é como a grama amassada pelo deleite quase sexual do intelecto.
Quanta excitação mora em um reduto de leitura! Quando passamos por suas portas, nos gritam vozes por todos os lados. Quantas pessoas estão ali adormecidas por trás de numerosas páginas: personagens e escritores! Quais deles despertaremos com nossa leitura? Cabe a nós essa difícil decisão. Malfeitores ou benfeitores, vilões ou mocinhos, bem e mal-intencionados, existe de tudo dentro de uma livraria, existe de tudo em um sebo ou em uma prateleira amiga. Nos convém escolher cuidadosos qual companhia tomar.
Livros são autores e personagens, livros são escolhas, livros são pensamentos, amores e dores e livros são falantes. Eles adoram comentar nossas preferências para os outros. Livros gostam de falar e falam não só deles, mas também de nós. Livros falam de sonhos e de desejos enrustidos. Falam da vida e do que nos falta nela. Podem nos encorajar ou nos acovardar. São como espadas ou escudos, depende apenas de nós.
Livros são despudoradamente deliciosos e não se importam se fazemos com eles um ménage literário, desde que nos mantenhamos, é claro, fieis ao propósito de lê-los do começo ao fim.
Livros se trocam, se mesclam, se transmutam em novas estórias em nós. Livros adoram comentar e serem comentados. Adoram ver seus personagens voando soltos para fora deles.
Livros são pedaços de coisas encantadas, são pedaços de gente, são pedaços de sonhos, são pedaços de mundos. Livros são pedaços que buscam se juntar em nós. São como metades que vasculham a outra dentro da gente. Livros são companheiros para todas as horas, são amigos confiáveis, são amantes fervorosos, são confidentes compreensivos, livros podem ser tudo desde que encontrem no mundo o ingrediente maior de seus desejos: um humano interessado.
Sem nós no livro e sem o livro em nós a mágica não acontece. O livro sempre se dá por inteiro e felizes de nós quando nos jogamos de cabeça em suas páginas.
Leitura é entrega. Leitura é saga de dois que se buscam afoitos. E lá na última página, quando o fim nos entristece ditando o término de um encontro único, o livro nunca se esquece de se despedir carinhoso, como se nos dissesse ao pé do ouvido que nos verá no futuro ainda outra vez.
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(Imagem de capa meramente ilustrativa)
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