Quando os primeiros sinais do tempo chegarem em meu rosto, que venham celebrando as boas surpresas do caminho. Estampando as marcas de algumas conquistas, que por mais que o tempo tente revelar são cultivadas e saboreadas intimamente.
Depois virá mais um sinal aqui e outro ali, e alguns deles também serão a resposta do tempo às dores e sofrimentos, reais ou inventados, que trazemos na bagagem. Quando eu encarar esses traços no espelho será inevitável me lembrar de tudo com intensidade. Ainda assim, espero que já seja o tempo de não sentir mais o gosto amargo provocado pela lembrança.
No meu corpo é provável que os sinais do tempo venham em forma de pele com menos viço e rigidez. Ao me deparar com isso talvez eu queira voltar no tempo, recusando-me a sentir uma forasteira em mim mesmo. Que seja esse o tempo de haver bom humor e leveza, para encarar esta fase como um tempo de liberdade. Enfim, a liberdade de não ter que ser perfeita. E, talvez, estranhamente, seja só aí que me verei bonita no espelho, com as dobrinhas e pele a mais que o tempo me trouxer.
Que nesse tempo eu seja aceitação ao invés de relutância, que eu não me perca travando uma guerra inútil e desesperada contra o tempo. E que eu não use a aceitação do tempo como desculpa resignada para não cuidar da dor nas costas antes dela chegar ao dedão do pé.
Quando o tempo achar que é a hora de me dar fios reluzentes em tom de branco acinzentado, que eu pinte cada fio, se assim achar melhor. E que seja por ainda alimentar o prazer bobo e alegre de fazer algo por mim. Nada, além disso.
Desse tempo que há de chegar confesso que residem em mim à contradição do medo e do desejo de que ele realmente chegue. De uma forma ou de outra, quando esse tempo de desejo e medo se tornar passado, que ele possa ser encarado com benevolência. A mesma que espero ter com todos os outros desenganos que a juventude possa justificar.
Não tenho dúvidas de que será um tempo nostálgico e que irei me sentir roubada pelo tempo, mesmo sabendo que há nele sempre a constância de levar e trazer, ganhar e perder, somar e subtrair.
O tempo desconhece a singularidade, nunca pede passagem, permissão ou concessão. Mas sabe ter uma aura nobre, de quem pode levar tudo embora, menos o brilho nos olhos de quem ainda traz consigo algum significado. Um significado maior que o próprio tempo.
Que o meu presente no futuro me traga desafios suficientes para eu ser uma dessas pessoas que diz em alto e bom som ao tempo: O brilho nos olhos não! Esse você não me tira!
E que seja com brilho nos olhos que eu tenha a hombridade de reconhecer, no meu tempo, que nunca é a hora de se jogar a toalha e admitir jogo ganho (ou perdido). Que seja o próprio tempo o mestre a me ensinar a ter respeito e gratidão por ele, a me fazer compreender que nunca é tempo de negar o tempo que se tem.
Quando esse tempo chegar, que eu saiba ser inteiramente sim ao tempo que se faz presente no meu templo.
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