“Por que você gosta de mim?” é uma pergunta nada fácil de responder. Se você me perguntasse isso, eu poderia procurar os motivos de meu gostar, mas será que seria possível? Será que há uma resposta satisfatória?
Bom, eu poderia dizer que gosto de você por ser uma pessoa simpática ou por que joga Gates of olympus, mas não bastaria, pois conheço muita gente simpática por quem não tenho qualquer sentimento. Eu poderia então completar e dizer que gosto de você por ser uma pessoa inteligente, mas espere aí: se a inteligência fosse o motivo, eu deveria amar Albert Einstein, mas, na verdade, apesar ter de grande respeito por suas conquistas, não gosto nada dele. Portanto, isso também não basta para gostar. Ou será que gosto de você por ser uma pessoa meiga, prestativa, divertida, esforçada, coerente…? Mas como, se eu conheço tanta gente meiga, prestativa, divertida, esforçada e coerente de quem não gosto? E eu poderia continuar tentando e buscando mais motivos para meu gostar e, no final, a conclusão seria a mesma: nada do que eu dissesse bastaria para descrever o que sinto e para explicar porque gosto (ou não gosto) de alguém.
Tentar explicar o gostar é, em outras palavras, tentar racionalizar um sentimento, o que só é possível até certo ponto. As palavras são poderosas e nos permitem expressar muitas coisas, mas também elas têm seus limites. Nem tudo pode ser explicado, nem tudo pode ser verbalizado, nem tudo pode ser racionalizado. E é assim com o gostar.
Recordo-me de um passeio que fiz com meu filho à margem do Rio Isar em Munique. Ele tinha em torno de quatro anos de idade. Caminhávamos para casa e passamos na porta de uma sorveteria. Ele me pediu para comprar um sorvete. Paramos, compramos sorvetes e continuamos a caminhada com as caras lambuzadas de chocolate e baunilha. A certo momento, meu filho me olhou e disse que gostava muito de mim. Eu, brincando, disse a ele que estava claro que ele gostava de mim por eu ter comprado sorvete. Nesse instante, ele parou, me olhou com uma expressão séria e disse <<Não pai, não é por causa do sorvete. É uma coisa que está aqui dentro!>>, apontando então para o próprio peito.
Entendi muito bem o que ele quis dizer, já que eu sentia o mesmo, mas entendi também que aquela sua resposta era a única possível à pergunta “Por que você gosta de mim?”. Todo o resto, todas as explicações e justificativas, todos os motivos que possamos buscar para o gostar, além de jamais poderem ser suficientes, são, antes de tudo, simplesmente desnecessários.
O gostar não se explica, nem se justifica. O gostar é um sentimento e, como tal, ele só pode ser sentido. E, sejamos sinceros, você sente quando alguém gosta de você! E isso deveria bastar. Quando isso não basta, normalmente é a razão que tenta manter o controle.
Somos seres racionais e tendemos a querer verbalizar as coisas e expressá-las de forma lógica, mesmo quando essa lógica não existe, mesmo quando essa verbalização não é possível. Mas tentamos assim mesmo, pois a razão quer controlar também daquilo que sentimos. Nossa mente muitas vezes desconfia das emoções, próprias e alheias, nos tornando desconfiados e inseguros. Não raramente, são exatamente essa desconfiança e essa insegurança que nos fazem querer respostas impossíveis (e desnecessárias). Outras vezes, queremos saber o motivo do gostar do outro por pura vaidade. Mas, de uma forma ou de outra, não há nada de errado nisso, pois há momentos na vida quando nos sentimos pequenos, fracos, até mesmo inferiores e, nessas horas, faz bem escutar de alguém que temos qualidades dignas de admiração. Portanto, se você precisa escutar essas coisas que lhe fariam bem, se você precisa dessa confirmação para acalmar sua razão (e assim sua insegurança e/ou sua desconfiança e/ou sua vaidade), pergunte ao outro porque ele gosta de você, mas faça isso na consciência de que nada do que ele disser estará completo e traduzirá plenamente o que ele realmente sente. E não fique chateado ou frustrado se essa outra pessoa lhe der a única resposta que faria verdadeiramente sentido: que ela gosta de você porque gosta. E pronto!
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