Meses atrás me deparei com uma discussão que me deixou desconfortável (adoro discussões assim), estava discutindo com uma pessoa que passava por uma crise, ela não estava conseguindo lidar com as dores da vida. Soltei a seguinte frase, “Se acalme, a vida às vezes se mostra amarga” logo em seguida recebi um soco figurativo no queixo “Se a vida é amarga, pra que eu vou me dar trabalho de viver? Quero um gosto doce e saída me parece ter este gosto” , eu não esperava por aquilo, não estava pronto para receber tal golpe, me assustei e congelei, a pessoa estava me dizendo que a saída era desistir e desistir era o tão polêmico suicídio. Fiquei sem reação, foi um belo nocaute, comecei um discurso sobre a vida e seus altos e baixos mas foi totalmente falho. A pergunta ainda ressoava em minha consciência, no fundo eu sabia como responder, mas aconteceu que na hora o baque foi  tão grande que as divagações foram parar embaixo do chuveiro.

Felizmente a pessoa não levou a constatação a diante, porém, como a questão me incomodou por não estar preparado para ela,  resolvi escrever sobre isso de uma maneira clara e tentei partir da mesma analogia do sabor da vida. Se a vida tem seu sabor, quais são os gostos que compõem esse sabor? Na culinária os mais conhecidos gostos são: doce, ácido, amargo e salgado. Poderíamos dizer que estes gostos também existem na nossa vida? O doce poderia ser as coisas que nos dão alegria, nossos amores, hobbies, conquistas e divertimentos. O ácido, os nossos medos, ocasiões surgem e podem fazer com que façamos aquela “cara feia”, a mesma que fazem as crianças quando chupam um limão pela primeira vez. O amargo, as nossas dores e angústias, aquilo que nos frusta, um gosto que não desejamos que perdure em nossas bocas. O salgado, nossos prazeres, você provavelmente deve estar se perguntando “mas por que nossos prazeres seriam salgados?”, acho que a melhor explicação seria, da mesma maneira que falamos “uma pessoa sem sal”  – uma pessoa que não nos atraí, que passa despercebida – seria a nossa vida sem os nossos prazeres, uma vida sem sal, no entanto, quando salgamos demais algo acabamos por estragar seu gosto. O sal em excesso é um grande inimigo, aliás, pode ocasionar problemas de saúde, da mesma maneira que se abusarmos de nossos prazeres, sejam eles quais forem (beber, comer, sexo, etc), isso acabará nos causando mal, portanto, os prazeres são mais gostosos quando bem dosados.

Agora, respondendo o questionamento que me havia sido imposto, “Se a vida é amarga, pra que eu vou me dar trabalho de viver? Quero um gosto doce e saída me parece ter este gosto”, esta é a minha resposta:

“A vida não é feita só de um gosto, que graça teria se fosse apenas um? Claro que apreciamos o doce, porém, você gostaria de comer doce para o resto de sua vida? Tenho quase certeza de que uma hora você iria enjoar e iria suplicar por um gosto diferente, a mesma coisa para os outros gostos que a vida apresenta. Conforme crescemos, nos deparamos com novos gostos e aprendemos a apreciar cada um deles, se prender em somente um gosto é perder todos os outros. Talvez a vida seja isso, deixar com que todos estes gostos que passam por nossa vida dancem em nossa boca sem se apegar e tentar evitar alguns, e com isso, aprenderíamos o sabor do nosso viver.”

Uma observação final: na indagação sobre sabores, consultei uma adorada amiga, uma chefe de cozinha notável, e ela me disse sobre um outro sabor que eu desconhecia, o tal de Umami, que em japonês significa “gosto saboroso e agradável”. Este gosto, o qual eu desconhecia, é descrito como um algo suave mas duradouro  e possivelmente ultrapassa os outros gostos através da sinergia entre eles, será que poderia dizer que o Umami é a nossa felicidade? Que fique esse questionamento para você, caro leitor.

Mike Akama Mazurek

Mike A. Mazurek, formado em Comunicação e Mestrando em Comunicação e Práticas de Consumo, futuro professor e escritor pelo prazer da vida.

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Mike Akama Mazurek

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