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Ninguém sabe muito sobre ela

Ninguém sabe muito sobre ela. Talvez somente eu a conheça. Ou talvez nem mesmo eu. Ela não é dessas que conversam muito ou que se encontre muito por aí. Ela faz muitas viagens, mas todas elas são pra dentro de si. Ela se perde em livros e músicas, em realidades e sonhos e carrega tantas palavras na alma que somente o silêncio pode traduzir.
 
Ser calada é a natureza dela, é seu estado natural, o seu modo de sentir e contemplar o mundo. O silêncio é o seu habitat, ela mora nela mesma ou em um reino no fundo do mar. Não é quando ela está calada que ela está diferente. Ela está diferente é quando fala tudo o que sente. A pior hora é quando ela coloca pra fora o que estava trancado a sete chaves. Porque ela só fala quando está desistindo, ela só se expõe quando está indo embora.
 
É aquele costumeiro momento em que o medo de dar errado é maior que a sua vontade de fazer dar certo. Ela não é de insistir. Eu não sei se é por força ou por fraqueza mas ela sempre desiste quando o coração começa a bater mais forte. Ela abre mão do que poderia ser um “nós” para ficar apenas com o seu “eu”.
 
No fundo ela apenas tem medo de se entregar, ela apenas tem medo de se perder, ela apenas tem medo de perder a tranquilidade quando coloca a cabeça no travesseiro. Ela não quer perder a serenidade pois a sua serenidade é apenas e tudo que ela tem.
 
Ela não mais escreve poesia, somente prosa. Sua cor preferida é o azul escuro, não mais o rosa. Ela não tem mais os sonhos românticos de outrora tampouco antigas esperanças. Só restou a calma de um espaço vazio e ela tem medo de preencher esse espaço e perder essa calma. Ela tem medo de esperar por uma mensagem, ela tem medo de esperar por um encontro, e outro e mais outro e outro mais. Ela não tem medo de terminar, medo ela tem é de continuar, de seguir em frente rumo ao desconhecido, rumo àquilo que pode ser nada, ou, quem sabe, pode ser tudo.
 
Por isso ela habita uma ilha, onde é tão difícil chegar. As suas águas são tão profundas que escondem segredos que ninguém nunca nem viu. Ela se sente em paz quando as águas estão serenas mas se alguém decide navegá-las, ela agita as suas marés, impedindo qualquer alcance.
No fundo do seu mar ela quer a-mar, mas não tem coragem. No fundo do seu mar ela quer sentir, mas ela é covarde.
 
Talvez um dia, quem sabe, a vontade seja maior que o medo, e ela deixe as suas águas serem navegadas e enfim divida os seus tantos segredos. Mas enquanto isso, ela vai criando “nãos” e se apoiando neles, se protegendo neles. Enquanto isso ela vai escrevendo textos que não ousa mostrar a ninguém, Talvez um dia ela se canse de escrever suas histórias, todas com o mesmo final, e decida finalmente deixar que a vida as escreva…
 
 

Nat Medeiros

“Sou personagem de uma comédia dramática, de um romance que ainda não aconteceu. Uma desconselheira amorosa, protagonista de desventuras do coração, algumas tristes, outras, engraçadas. Mas todas elas me trouxeram alguma lição. Confesso que a minha vida amorosa não seguiu as histórias dos contos de fada, tampouco os planos de adolescência. Os caminhos foram tortos, íngremes, com muitos altos e baixos e consequentemente com muita emoção. Eu vivo em uma montanha-russa de sentimentos. E creio que é aí que reside o meu entendimento sobre os relacionamentos. Estou em transição: uma jovem se tornando mulher experiente, uma legítima sonhadora se adaptando a um mundo cada vez mais virtual. Sou apenas uma mas poderia ser tantas que posso afirmar que igual a mim no mundo existem muitas e é para elas que escrevo: para as doces mulheres que se tornaram modernas mas que ainda acreditam nas histórias de amor.”

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