Dizem que há na vida algumas poucas certezas absolutas, mas se eu pudesse dar um conselho sobre algo que julgo ser uma dessas pequenas certezas eu diria “Esquece, você não pode controlar tudo. Por mais esforçado que você seja, a vida traz imprevistos”.
Mesmo aqueles que não se julgam controlados, certamente já tentaram controlar algum aspecto incontrolável da vida. Já tentaram dizer ao tempo que voltasse, já tentaram fazer as coisas de um jeito “x” para obter um resultado “y”, já tentaram planejar um evento nos mínimos detalhes, tentando livrar dele a possibilidade de alguma coisa sair errado.
Então eu preciso dizer algo que pode ser assustador, mas deveras libertador: descontrole-se. Não em relação a invadir o espaço de outra pessoa de forma desrespeitosa, não nada disso. Descontrole-se no sentido de se abrir para novas possibilidades, diferentes daquelas planejadas.
Você pode ser agraciado pelo melhor ao adotar determinada meta e lutar por ela, mas o contrário pode também acontecer. Existem possibilidades que podem desaguar no esperado ou no inesperado. E existe a forma como encaramos o esperado e o inesperado. Nossas escolhas têm metade das chances de dar certo e metade de dar errado.
Se por conta de algum imprevisto nossos planos foram por “água abaixo”, de que adianta chorar o leite derramado pelo que já foi? O jeito é ordenar as coisas de outra forma, de uma forma que nos possibilite seguir em frente.
Sempre existe um outro caminho, um outro jeito, uma outra oportunidade, uma outra visão de mundo. A vida é como uma moeda que tem um lado bom e outro ruim. É a gente que escolhe para qual lado olhar. O valor da vida permanece o mesmo, apenas a nossa forma de olhar para ela é que muda.
Esqueçamos do controle, esqueçamos de colocar os pingos em todos os “is”. Que a gente tenha precaução, que a gente se guie, que a gente se dedique da melhor forma possível, mas não se deixe envenenar pelo enganoso jeito “certo” de fazer as coisas. Se todos fizessem as coisas só por esse jeito “certo” não teríamos hoje o queijo, o vinho, o pão e a cerveja.
Existem vários jeitos ditos certos e vários jeitos ditos errados para absolutamente tudo e o que os diferencia, muitas vezes, é apenas o ponto de vista que adotamos ao olhá-los.
Que a gente não se congratule demais ou se digladie demais pelas nossas decisões. Viver é risco, é ganho e perda. Viver não é controle, pelo contrário, viver tem muito mais a ver com a forma com que lidamos com aquilo que não podemos controlar do que com aquilo que sai nos habituais “conformes”.
O vestido rasgou, o salto quebrou, derrubaram cerveja na sua camisa, o transito engarrafou, o encontro não rolou, você ficou resfriado, o casamento acabou? Que bom saber que existem soluções para quase tudo e se por ventura não existirem grandes soluções, que nós possamos tirar o melhor de cada situação.
Que possamos ser uma horda de descontrolados felizes e gratos ao invés de donos da razão ranzinzas e rancorosos! Não existe um único jeito para andar, um único jeito para falar, um único jeito para se vestir, um único jeito para dançar, um único jeito para beijar, um único jeito para transar, um único jeito para casar, um único jeito para criar os filhos, um único jeito para dormir e acordar, um único jeito para falhar ou concretizar. Não existe um único jeito para viver. O que existe é o jeito de cada um fazer, falar e ser o que é e esse jeito único tem uma beleza toda especial.
O acaso, o não esperado, o imprevisto nos toca de forma inesperada durante a vida e nos desnorteia muitas vezes, mas quase sempre carrega consigo ensinamentos preciosos que só os descontrolados conseguem apreciar.
Descontrolemo-nos então!
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