“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana” (Carl Jung)
Lendo as “Memórias, sonhos e reflexões” do psicanalista suíço Carl Gustav Jung percebi que em nossas interações mais íntimas plantamos uma sementinha particularmente nossa no outro e a recíproca também é verdadeira. Acredito que isso não se dê de forma proposital e acontece, quase sempre, sem que percebamos. Jung era um homem muito sábio, estudioso, empático e profundamente engajado em entender e tornar melhor a vida de todos que entravam em seu consultório.
E nessa troca entre ele, o psicanalista, e o outro, dois mundos se tocavam. Assim acontece, a meu ver, com todas as pessoas com as quais interagimos profundamente, que nos são queridas e confidentes. Parte delas fala em nós. Parte delas nos incita para o melhor ou para o pior.
Esse efeito transformador de Jung no outro foi tão notável que Sabina Spielrein, uma paciente sua com histeria aguda, após se envolver profundamente com ele, se curou e cursou posteriormente a faculdade de medicina, tornando-se um dos grandes nomes femininos da psicanálise da época. Uma outra paciente do psicanalista suíço, Antonia Wolff, veio a se tornar cofundadora do clube de psicologia de Zurique. Sua esposa, Emma Jung, foi também sua admiradora, tornando-se analista, escritora e pesquisadora. Jung encontrou principalmente nas mulheres companhia para sua viagem ao inconsciente, mas é inegável que essa empatia, essa troca entre ele, pacientes e pessoas próximas, acontecia independente de gênero.
De alguma forma a parte mais profunda de Jung chegava ao outro animando-o com aquilo que para Jung era vital. Como se ele colocasse no mais íntimo do outro o que lhe era mais apaixonante.
Arrisco dizer que nós, diariamente, fazemos o mesmo com aqueles que nos são próximos. Quando nos permitimos essa simbiose, despertamos nossas paixões no outro. Passamos a viver dentro dele, modificando seu mundo. O outro também, ao nos tocar no íntimo, passa a morar em nós. Confluímos, na vida, de forma a nos mesclarmos, a deixarmos parte de nossa essência com aqueles que amamos e vice-versa.
Todos podemos nos lembrar, por exemplo, de um professor querido que ao transmitir o que sabia com extremo amor tornava as aulas prazerosas e o entendimento da matéria fácil. De certa forma ele nos habitava através de seu amor pela matéria e de nossa admiração por ele.
Que possamos plantar nos mais próximos nossa parte mais amorosa, mais amiga, mais criativa. Que possamos ter força para não permitirmos que nossos medos e inseguranças entrem nessa equação.
A empatia, a admiração, a amizade, a troca apaixonante que acontece entre dois seres humanos é cativante. Essa troca profunda, essa intimidade no outro por si só é uma viagem maravilhosa. E mesmo quando esse outro não está mais por perto, parte dele ainda vive em nós através de suas palavras, ações, ensinamentos e jeitos de ver e fazer as coisas.
Um dia nos disseram que pararíamos de crescer. Lembram? Eu particularmente não acredito nisso. Eu penso que dobramos de tamanho durante a vida. Lá no fim seremos nós mais todos aqueles que um dia nos tocaram profundamente a alma.
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