Tenho pensado em sentimentos e liberdades.
Tenho percebido que a maior liberdade que podemos atingir não vem de uma ação, vem de uma transformação interna de deixar-se ser e sentir.
Deixar os sentimentos fluírem em nós sem medos, sem orgulhos, sem limites.
E sentimento é diferente de emoção.
Emoção é impulso, pede ação. Emoção é reação instintiva, irracional, é fogo de palha, queima rápido, alto, forte e logo apaga.
Sentimento é leveza, é amor, é sopro de vida.
É fogo azul, forte, antigo, constante. Aquece corações e perdura no tempo.
Emoção muitas vezes é ácida.
Sentimento tem PH neutro.
Tenho percebido que liberdade é deixar os sentimentos acontecerem.
E eles têm uma dança própria, um ritmo diferente dos moldes do pensamento. A cabeça quer organizar, explicar, definir, julgar, limitar. O sentimento quer fluir.
Sentimentos não obedecem às regras do mundo.
A gente finge que sim, mas sentimentos não conhecem fronteiras. Eles não escolhem seguir os caminhos mais seguros e conveniente.
O ego quer torna-los concretos, mas sentimentos são pura abstração.
Pensamos que ao definir um sentimento poderemos controlá-lo. E queremos controlar os sentimentos pois temos medo que eles deflagrem as nossas fraquezas e vulnerabilidades e sejam maiores que nós.
É como capturar um pássaro para possui-lo depois de termos nos apaixonado pelo que nele era voo.
Mas e se ao invés de nomearmos, definirmos e limitarmos os sentimentos, nós aprendêssemos a deixa-los transbordar por nossos poros?
E se ao invés de segurarmos um pássaro com as mãos, aceitarmos que ele é belo e bom justamente porque voa?
E se percebermos que o único jeito verdadeiro de amar é deixando o amor existir, simplesmente?
Acho que ao abrirmos as gaiolas da alma, vamos perceber que um amor não termina quando o outro começa, que um sentimento não morre quando a pessoa não está mais fisicamente presente, que um sentimento não nasce só quando o terreno é favorável para isso.
Sentimentos são de dentro para fora, se expandem e povoam diferentes lugares ao mesmo tempo. Independentemente de haver espaço, contato ou permissão. Sentimentos têm raízes em si mesmos.
E que perigo há nisso de se deixar amar e sentir?
Talvez uma lágrima caia em público, um sorriso surja do nada, uma vontade de juntar as mãos do que o mundo definiu como antagonismos. Mas é isso. A coragem é essa.
Nomear e reprimir o que dentro de nós grita é colocar barreiras num rio. Rio que só queria ser doce, que só queria ser ele mesmo, e que de tanto ter sido contido, extravasou todos os limites.
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