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Dos amores que não são

Falemos dos amores que não são, daqueles que nunca virão a ser. A maioria deles teve a chance de acontecer, mas por um motivo ou por outro, passou. O vento levou.

O vento leva consigo as pessoas e tudo que elas representam para nós naquele dado momento a certa altura do campeonato da vida. Encontrar uma pessoa 10 anos depois de quando vocês eram amigos de adolescência é encontrar um novo ser, e tentar reencontrar em seu olhar resquícios do passado.

Dos amores que não são, eu temo. Temo muito ao pensar que toda a escolha é minha. Existem infinitas possibilidades de realidades paralelas de se desenrolarem sob a corrente de ar que nos permeia. Mas não gostamos de pensar que as escolhas são nossas: destino é uma das palavras mais cobiçadas por aqueles que desejam encontrar um sentido no rumo que as coisas inúteis que fazemos tomam.

Existem amores que não são feitos para serem postos à prova, para serem arriscados, para serem submetidos a um possível desamorecimento. Quando eu tiver lá os meus 80 anos e olhar para trás, observando o enésimo por-do-sol que já terei visto na minha longa e breve vida, eu não me lembrarei de todos aqueles que conheci. Ficarão guardados em minha memória o meu único e grande amor, minhas amizades, minha família, minhas decepções e rancores. Nisto se incluem os meus amores puros, meus amores virgens, que aconteceram sem acontecer no plano do olhar profundo de quem bem entende o que está acontecendo ali. Duas pessoas sabem quando entre elas se estabelecem os amores que não são. Porque eles ficam naquele meio-termo entre a amizade e a curiosidade de saber no que isso poderia vir a dar, porém outros motivos são maiores para impedir que isto aconteça. A escolha é feita, e então os amores que não são sabem que a coisa toda continuará a ser assim. E então se concretizam, se estabelecem, e duram, e duram, pois estes são o único tipo de amor eterno. Já os amores fortes que um dia acabam, simplesmente de fato o fazem: acabam.

Os amores que não são não tem como acabar, porque nunca começaram. Eles não tem início, meio nem fim, mas acontecem, sem serem ditos a voz alta por ninguém. Os únicos a saber de sua existência são os olhares, o único tipo de coisa existente capaz de entender a complexidade das vidas paralelas. Em uma outra realidade, os amores que não são seriam. Mas não hoje. Não sem outros motivos para, de fato, serem.

Thaís Amaral

Thaís Amaral tem 22, mora no interior de SP e publica os murmúrios de seu mar de dentro no blog Sereia no Aquário (sereianoaquario.wordpress.com).

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