Você tem que se amar mais. Falam isso como se fosse moleza. Como se a gente tivesse um botãozinho de autoamor. Apertou, amou. Tem gente que entende que o jeito é pra ir pra academia, tomar uns shakes, fechar a boca, fazer luzes. De fato, a autoestima melhora. Mas estima não é amor. Seguindo por aí, a gente no máximo aumenta o tesão por si. Se acha uma delícia, se convida pra sair, mas não liga no dia seguinte. A gente não quer nada sério com a gente.

E como é que se ama? Desconfio que amar a si mesmo é como amar o outro, ora. Primeiro a gente se conhece, troca olhares, a gente se escuta atentamente. Descobre do que gosta, acha graça dos defeitos, se aproxima aos pouquinhos. A gente se apaixona quando quer saber de toda a história, de todos os detalhes que ninguém antes perguntou. E então, encantado por aqueles caminhos, a gente vai entrando neles, até se perder, adoravelmente.

A gente se encanta, mas não se apaixona só por um corpão. A gente se apaixona mesmo por um corpão com belas curvas de humor, sacadas bem definidas, pelo cuidado, pela atenção, pelos músculos fortes do coração do outro. Conheço um monte de gente que não tem isso por si mesmo. Não ri das próprias piadas, não se encanta pelas próprias descobertas, não se cuida, não se ouve atentamente, não esculta o próprio pulsar. Conheço um monte de gente que não entendeu ainda que a gente só ama quem admira.Mire em si mesmo para admirar.

Amar a si mesmo não é fácil. Eu nunca disse isso. Se amar mais é uma trilha longa e demorada de conquista. Digamos que nós nos façamos de difíceis para nós mesmos. A gente faz um doce danado para nossa própria conquista, tem um pé atrás consigo mesmos. Vai ver que é porque a gente conhece a encrenca, conhecemos nossas próprias neuras e manias, a gente já foi machucado muito por esse tal de si mesmo. Cabe a nós tentarmos enxergar os encantos adoráveis que é ser quem se é. Leve o tal do si mesmo para fazer algo que ele adora. Parece um bom começo para qualquer relação amorosa.

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Imagem: Pexels

Diego Engenho Novo

Escritor, publicitário e filho da dona Betânia. Criador do blog Palavra Crônica, vive em São Paulo de onde escreve sobre relacionamentos e cotidiano.

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