Por Josie Conti
Na casa da minha avó, sob o fogão de lenha já desativado, ficava um suporte de arame que fornecia o apoio necessário a um filtro de café daqueles mais antigos, dos de pano. Meu avô fervia a água e, após filtrado pelo tecido já encardido, ficava no fundo aquela borra marrom que teria dois destinos prováveis, ora seria usada para adubar as flores do jardim, ora seria jogada no tanque. Minha avó, que perdera a visão há muitos anos por conta de um glaucoma, pedia para que eu fosse ao quintal executar a tarefa que a mim caberia no dia. Na cozinha, por alguns minutos, o afeto tinha cheiro e a garrafa bem fechadinha no centro da mesa não deixava fugir o calor.
Para alguns pequenos prazeres, não há explicação lógica que atenda à dimensão do sentir. Os amantes do café costumam ter histórias que já trazem lá da infância e seja em padarias, cafeterias ou qualquer lugar que forneça um cantinho aconchegante, lá estão eles, sentados com sua xícara na mão. Em seus rostos, pensamentos ocultos, planejamentos ou sonhos distantes passeiam sem pedir licença.
Há na degustação do café um intervalo da rotina que eleva e deixa em suspenso o ritmo acelerado dos dias.
Venha direto do coador de pano, moído na hora para o expresso, feito em cafeteira italiana, com leite, mocha ou cappuccino, pingado ou macchiato, o homem encontrou formas de apreciar esse grão e junto com elas construiu histórias.
O café sempre foi companheiro nos momentos de solidão ou parceiro em mesa de amigos. Penso que ele é como macarronada de domingo, só que é melhor, porque não tem preconceito com dia.
Se na infância o café vinha do coador de pano que depois a avó pedia para lavar no tanque, com o correr dos anos e na passagem por cidades e países diferentes tornou-se fonte de um olhar atento às cafeterias que apareciam pelo caminho, às padarias que trariam alguns minutos de conforto e a sensação de estar em casa em qualquer lugar do mundo, onde um bom gole de café se fizesse presente.
Algumas vezes, confesso, o paladar sofria com as diferenças do sabor. Em outras, a tristeza era fruto da pouca quantidade, apenas um dedinho no fundo da xícara que poderia causar um ataque de pânico a qualquer amante de café que se preze.
Numa esquina francesa ou num barzinho perto do trabalho. Brasileiro ou colombiano. Peruano, paraguaio ou venezuelano. Rapidamente junto ao balcão ou dentro de uma livraria…. onde há parada o café se faz presente e, realmente como um presente, desperta as memórias de um paladar amigo, do tempo em que, sob o cuidado amoroso dos avós, a mais complexa decisão seria saber se a borra seria jogada no tanque ou formaria um pequeno castelo junto às flores do jardim.
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Que texto Lindooo!!!
Ah,o café! E eu, uma bebedoura contumaz que,agora mesmo,após ter sido tolhida pela crise de labirintite,de beber minha xícara costumeira,me deparo com este texto a me transportar até a minha infância. Ah,um cafezinho!