Você passa toda sua vida acreditando em determinadas coisas, seguindo um determinado modelo, convicto de ser o caminho certo, conceitos e preconceitos vão se formando, você escolhe (ou alguém escolhe por você) uma religião, uma crença ou mesmo a falta dela, você absorve ideologias, torce por um time, define linhas, limites e regras, classificando tudo em sua volta em certo ou errado, bom ou ruim, sensato ou insensato, aceitável ou inaceitável e você traça seu próprio mundo, você desenha sua própria vida. E você está seguro de ter pessoas que dividem tudo isso com você, parentes, colegas, vizinhos, amigos reais e virtuais e muito mais gente por aí que faz parte de seu “time”, de sua vida, de seu mundo, gente desse ou daquele tipo, a depender do que você defende ou repudia.
Você vai colecionando e acumulando tudo isso durante sua vida inteira, interiorizando essas coisas, encarnando-as, acreditando ser isso tudo realmente seu, que tudo isso é realmente você. E você ainda “embala” tudo isso bonitinho, colocando rótulos e etiquetas, escrevendo na testa o que você representa e aquilo no que você acredita, apresentando-se ao mundo como uma pessoa “cheia de coisas” e com uma fachada perfeita. E você vive assim por muitos anos ou mesmo décadas, convicto, seguro, pois você foi definido ou se definiu, sabe o que vale ou não a pena, quais pessoas são boas ou ruins, quem merece sua atenção e quem não…
Sua vida vai correndo, o tempo vai passando e certas convicções vão se cristalizando ainda mais, até que você um dia sabe: é nisso que realmente acredito!
Agora você imagine um casarão antigo, um sobrado, a casa mais bonita da rua. E imagine que essa casa seja você, ali, sólida, robusta, aquela casa que foi construída em muitos anos, com sua fachada maravilhosa, aquela fachada bem conservada por você ao longo de todo esse tempo. E você, orgulhoso da linda casa que é, gosta quando as pessoas param na frente para admirar aquela construção, aquela obra incomparável. Mas, um belo dia, você toma um susto, pois um caminhão pesado passa na rua, estremecendo tudo, fazendo a casa (você!) vibrar. E, de repente, sem que você jamais esperasse por isso, cai um pedaço grande do reboco, do seu reboco, destruindo parcialmente a fachada. Você reage, busca areia e cimento e conserta logo o defeito, pois você quer manter a fachada bonita para continuar a ser admirado pelos passantes. Mas não demora muito e o reboco cai em outro canto. Você conserta de novo, mas vão caindo outros pedaços e você se desespera, pois não consegue dar conta de tanto reboco caindo.
Um dia você para e procura entender o que está acontecendo. E você percebe então a causa do problema: a casa é antiga, a estrutura sofreu com o passar dos anos, sem que você cuidasse disso, mantendo somente a fachada bem tratada, arrumando o que se vê de fora, mas sem nunca questionar se o alicerce ainda segura toda aquela obra monumental. Sim, você foi construindo, colocando coisas, sem nunca verificar se a casa, depois de tanto tempo, ainda dá conta do peso acumulado. E a estrutura abalada não segura mais a casa e muito menos a fachada, fazendo com que o reboco caia e toda a construção balance.
Não é assim também na vida?
O mesmo termina acontecendo com qualquer ser humano que passe a vida cuidando da fachada, de rótulos e etiquetas, sem cuidar realmente da estrutura, sem verificar se todo o alicerce de crenças, ideologias e convicções ainda sustentam o todo, sem adequar o peso à base que o segura, sem cuidar do que realmente é essencial. Podemos nos iludir, acreditando que tudo está bem enquanto a fachada segurar, mas também na vida passa mais cedo ou mais tarde um caminhão pesado, que faz tudo estremecer, derrubando o reboco e mostrando o que se encontra por trás dele: uma estrutura já há muito tempo fraca, abalada, insegura. Sim, esse caminhão pesado passa em nossas vidas de formas diversas:
A forma pode variar, mas é importante saber que esse “caminhão pesado” pode passar repentinamente na vida de qualquer um, na sua, na minha, na de todos, a qualquer momento. E sua casa irá estremecer, podendo cair reboco. Mas não se desespere se isso acontecer: veja isso como oportunidade de aprendizado, crescimento e mudança, como uma chance de parar para refletir, de questionar a carga carregada até então, suas crenças, seus conceitos, suas convicções, de rever a estrutura e de fazer uma reforma substancial daquilo que já há muito tempo não estava realmente dando mais certo. Na hora que passar o caminhão, aproveite essa chance de mudar e refazer sua vida, de se reestruturar e de sair de uma situação que não lhe faz feliz. Esqueça a aparência, ela vem automaticamente, é resultado do que está realmente dentro de você. Prefira cuidar da essência e você terá maiores chances de levar uma vida verdadeiramente plena e feliz. A vida é curta demais para ficar consertando reboco só para manter a fachada. ?
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Tocante!
Tocante..
lindo texto de reflexão!
Texto maravilhoso, vou guardar para toda vida.