A cabeleireira, de tesoura na mão, perguntou: “Corto cutinho, o mesmo corte de sempre?” e meu menino, me olhando agoniado, respondeu: “Dessa vez não corta muito não, quero deixar ele no tamanho médio”. Eu, no meu canto, só consenti com um manejo de cabeça. Minutos depois saímos do salão, ele contente por ter mantido sua identidade capilar, e eu com a certeza de que nessa vida nem tudo é oito ou oitenta, no meio do caminho é que a gente é feliz.
Vivemos em busca da felicidade e nos esquecemos de que a realidade da felicidade está mais ao nosso alcance do que supomos imaginar. A realidade da felicidade é alcançável, palpável, disponível. A realidade da felicidade não está no auge, além de nossos limites e capacidades. Ela é mais terrena, mais amena, mais fácil e serena. Está no caminho do meio, entre o tudo ou nada que tanto nos desorienta.
Nos matriculamos na academia em busca de saúde e logo queremos estar sarados, hiper tonificados, sem nenhuma gordurinha fora do lugar. Colocamos metas muito altas pra nós mesmos e perdemos a saúde almejada tentando alcançá-la.
Procuramos um amor que goste de cinema e quando encontramos nos ressentimos porque ele não nos manda flores toda semana nem nos convida para dançar. Nos machucamos esperando grandes feitos e nos esquecemos que o amor não obedece cronogramas, não se concretiza no oito ou oitenta, não é melhor ou pior que aquele da tevê. Esquecemos que a união se faz durante a construção, as delicadezas se somando à luz do dia a dia.
Queremos ser ricos e bem sucedidos, mas deixamos para usufruir nossos bens quando o ritmo de trabalho diminuir. Damos mais importância ao frenesi de conquistar/acumular do que simplesmente curtir. Esquecemos que é preciso pouco para ter a casa cheia de amigos ou encher o carro pra uma viagem de férias com a família. Esquecemos que o equilíbrio está no meio do caminho, na oportunidade de usarmos o tempo a nosso favor, na alegria de podermos gastar aquele dinheirinho suado com quem a gente ama ou com aquilo que a gente gosta.
Nem tudo é oito ou oitenta, preto ou branco, tudo ou nada. Não precisamos exigir dos outros nem de nós mesmos esforços sobre humanos. Nem tudo está em jogo, e a vida é uma conquista pra quem sabe usufruí-la com serenidade, entendendo que a felicidade é feita de metas realistas, dentro daquilo que a gente pode construir e vivenciar de verdade.
Não espere cruzar mares ou escalar montanhas para encontrar sentido. Não imagine seu coração disparando toda vez que encontrar a pessoa que escolheu para passar o resto da vida com você. Não almeje o corpo da revista nem o cabelo da modelo do comercial de shampoo. Não viva programando a felicidade como se ela fosse a meta, não o caminho. E finalmente, autorize que a alegria seja bem vinda, ainda que seus dias sejam comuns…
*Imagem: Elena Shumilova
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sempre é bom ler palavras tão sábias em linhas tão bem escritas... é assim mesmo, desprezamos por muitas vezes o caminho sereno do meio, mas quando paramos pra pensar quais foram os momentos em que estávamos de fato felizes e de bem com a gente e com o outro, são esses leves e cotidianos que brilham...
Muito bom. Mais uma vez, parabéns!