O tempo de quem passa sofrendo, amando o outro em estado de espera nunca é o mesmo para quem já se desgarrou e só está criando coragem para escrever o ponto final.
O tempo dentro de um coração devastado pela mágoa nunca é cronológico, não sabe arder na batida estridente de um segundo e depois parar.
É um tempo amargo que escorre lentamente.
Tempo com recheio de lembrança. Com gosto de lágrima.
Quem ama não sabe parar de amar. Vive o tempo inteiro rebobinando as memórias festivas,redesenhando na pele, a anatomia e os gestos do ser amado.
Quem dá um tempo no amor consagra a dúvida. E o amor não combina com a dúvida.
Ou é. Ou não é.
Dar um tempo no amor é constatar que houve um rompimento de tudo que já foi vivido e restou apenas a ameaça do tempo cronológico, a falta de coragem para apagar de vez o velho endereço do beijo, do corpo faminto, do abraço que afrouxou depois de tantos desencontros.O tempo de espera no portão de quem ama é sempre promessa de um beijo.
O tempo de quem vai se despedir é sempre curto, parece fuga.
O tempo para compreensão do outro é sempre pouco.
Somos impacientes para descobrir que na execução dessa notável tarefa, também somos revelados. Preferimos apontar os erros alheios e seguir com a certeza que a cada erro do outro, aumentamos nossa margem de acertos. Eis o tempo das incompreensões!
O outro se torna o erro que não desejo cometer. O outro é uma cobaia que erra antes para me ensinar o que não devo fazer.Quem solicita tempo no amor já deixou de amar há muito tempo.
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