Por Josie Conti
Minha casa fica em uma esquina e, não raro, pessoas param para conversar. Hoje acordei com uma dessas conversas. Sob minha janela um senhor com opinião sobre tudo monopolizava o “diálogo” com seu interlocutor. Clima, política, vizinhança, família, não havia assunto que não pudesse ser encarrilhado em seu fôlego.
Em psiquiatria existe um termo utilizado para pessoas que falam sem parar: verborragia. Nunca vi termo mais adequado. É uma real hemorragia das palavras e, por coincidência ou não, costuma vir em voz alta. É uma falta de controle, uma falta de freio. Assim, como a hemorragia, é um sintoma que, se não controlado, temo que possa matar. No meu caso, um verdadeiro matador de sonhos.
É no diálogo que mora a relação, que existe a troca. O monólogo é vaidoso. Não conhece empatia.
É necessário perceber o tempo do outro, sua resposta é até seu silêncio. Quem fala demais não enxerga olhar de tédio, não ouve bocejo e nem se atém a inquietação física da vítima que está desesperada para sair correndo ou escorrer pela guia da calçada.
Penso que para viver melhor precisamos da inteligência do silêncio. Silenciar é dar tempo a si mesmo e ao outro para que o mundo todo se acomode, e mundo acomodado é mundo macio, confortável, com sentido.
É no silêncio dos amigos que surge a troca de olhares cúmplices, é esse silêncio que precede as gargalhadas.
É no silêncio dos amantes que os olhares conversam e trocam juras de amor. É o silêncio que precede o beijo.
É no silêncio da emoção que não encontramos palavras exatas para descrever o que sentimos, que ficamos embargados e gaguejamos, porque as palavras vieram na hora errada.
Mesmo na dor, há beleza. Lá dentro, no escuro, no silêncio, na essência de si, no sentido do mundo.
Vou me levantar. O homem ainda fala.
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