Ao adquirir sua primeira câmera profissional, a fotógrafa russa Elena Shumilova decidiu retratar um contexto extremamente próximo: a rotina de seus dois filhos e sua relação com os animais. Embora iniciante, em pouco tempo Elena conseguiu produzir um ensaio de forte apuro técnico e apelo emocional.
A infância que Elena Shumilova retrata é repleta de fantasia e descobertas cotidianas. O universo que ela constrói nas fotografias, embora bastante calcado na beleza e harmonia dos planos, dá margem também a certo mistério. Por mais próximo que se esteja, algo parece seguir guardado pelas crianças, em um mundo ao qual os adultos já não têm acesso.
Fabíola Simões é autora do blog “A Soma de todos os Afetos“ e livro de mesmo nome. Sua escrita retrata a vida de forma simples e sensível, e busca, através de seu olhar, extrair poesia do cotidiano.
Aliando trechos dos melhores textos de Fabíola Simões com a poesia em forma de imagens de Elena Shumilova, surgiu o ensaio abaixo. Espero que vocês gostem e se emocionem também!
Todo mundo sabe que não adianta “chorar sobre o leite derramado”, e que “vão-se os anéis, mas ficam-se os dedos…”, mas mesmo assim não é simples aceitar que coisas, pessoas, relacionamentos, histórias, lugares, momentos…ou o que quer que seja, se vá. A gente teima em se fixar no que passou, no buraco que ficou, no vazio que deixou, na parte de nós que ainda está naquele lugar que não existe mais. Tanta louça brilhando na cristaleira e só queremos juntar os cacos daquela que espatifou…
Temos saudade do que a mente sonhou e a vida deixou partir. Do que é lembrado com ternura, e permanece existindo como um refúgio invisível dentro de nós. Do que não resistiu como memória palpável, mas jamais deixará de fazer falta. Do que fomos, do que queríamos ser, da parte de nós que teve que ser deixada para trás.
Uma das lições mais difíceis de se aprender nessa jornada é a questão da aceitação. A gente traça um roteiro próprio, estabelece metas, acrescenta vontades, junta uma grande dose de sentimentos e espera que tudo corra conforme o combinado. Criamos expectativas em cima de pessoas tão diferentes de nós, querendo que elas sigam o script, ou que, pelo menos, obedeçam nosso combinado. Se somos tigres ferozes, nos indignamos com a serenidade dos coalas. Se temos a agilidade do beija flor, nos impacientamos com a lentidão dos caracóis. E de repente você percebe que está numa batalha que nem escolheu estar, tentando se defender de quem julga lhe conhecer melhor que você. Portanto, mesmo que discorde ou acredite conhecer aqueles que ama, entenda que jamais o saberá por completo, pois cada um carrega muito mais bagagem do que supomos desvendar.
Gosto de gente sem agrotóxico. Que não tem vergonha de sua casca “mais ou menos” e se perdoa pelas pragas. Que não tem medo de expôr suas fragilidades do mesmo modo que se vangloria de suas virtudes.
Gente que não se infla para parecer maior do que é.
Gente que se humaniza e se aproxima de mim.
Que não faz alarde de sua felicidade, mas valoriza o que vale a pena _ como a sombra de um Jatobá…
Deseje saúde, mas não fique refém da musculatura estirada e hipertrofiada. Deseje liberdade, mas não imagine que ela está no fim de uma estrada íngreme e cheia de curvas. Tenha fé e respeite o sagrado que há em você, mas não julgue nem discrimine outras formas de espiritualidade. Estude, aprenda, pratique, mas não se fixe num boletim repleto de notas máximas. Deseje um bom emprego, com um salário digno, mas não abra mão dos seus ganhos pessoais em função dos rendimentos profissionais. Não seja avarento, consuma com moderação e jamais desperdice. Ame e permita ser amado por alguém, mas não espere ser retribuído na mesma proporção ou com os mesmos gestos. Tolere as diferenças e tenha paciência com as demoras.
A gente cresce e vive de saudades também. Mas isso pode ser tão penoso… como se somente o que passou tivesse vocação de felicidade. Por isso, não viva de buscar tesouros. Preserve o que é seu para não se frustrar em demasia. Desejar é bom, nos mantém alertas e vivos, mas chega uma hora em que é preciso somente agradecer. Mesmo sem saber rezar, não tenha pudores em dobrar os joelhos e dizer obrigado. Na vida saímos esfolados vezes demais, mas o saldo é sempre positivo. Só tenha paciência de esperar, pois mesmo sendo difícil, há beleza. Mesmo machucando, há prazer. Mesmo frustrando, há satisfação.
Vou te contar: Se existe um lugar onde pode se refugiar em segurança, esse lugar é na verdade. Não negue seus afetos, suas alegrias, suas vitórias e desejos, mas principalmente, não negue sua dor. A gente só sai da tristeza quando se permite vivenciá-la. Pode ser que um dia você sinta que seus olhos enxergam melhor quando estão úmidos. Isso acontece porque a lágrima lubrifica a visão, enquanto a tristeza nos reconecta ao que de mais verdadeiro existe em nós. Então chore, chore, e não disfarce seu abandono, sua decepção, raiva e frustração. Mas depois dance, dance, dance… pois a dor também tem o seu feitiço, Coraline.
Algumas coisas são inexplicáveis pra quem está de fora. Existem códigos secretos que só pertencem aos que partilharam a mesma mesa, o mesmo quarto, as mesmas brincadeiras, os mesmos pais. Talvez cumplicidade e camaradagem sejam as palavras certas pra definir esse tipo de amor, que começa com um “não me entrega que eu também não te entrego”, e segue vida afora compreendendo os traumas ocultos, as dores disfarçadas, a raiva acumulada, a alegria infantil, a inércia justificada. Mesmo longe, as mãos se reconhecem e se apoiam. Mesmo sem palavras, o entendimento é real. E no fim das contas, é aquele olhar cúmplice (“não me dedura por favor…”) que nos levanta e aquece. É aquele olhar que justifica e valida a beleza da vida, do mundo, das pessoas. E, de alguma forma que não sei dizer, traz alívio e paz.
A gente vive certo porque errou um dia. E silencia quando entende que todas palavras foram ditas. Porque de vez em quando, aquilo que conserta é aquilo que cala ou ausenta. O nada que diz tudo.
Quando o verbo é equívoco, o silêncio é corretivo.
Então o que eu queria lhe desejar é esperança. Se não a mesma esperança que tínhamos lá atrás, quando algo não saía conforme o combinado e a gente acreditava que ‘pra tudo dá-se um jeito’ ou que faríamos ‘diamantes de pedaços de vidro’; pelo menos o desejo de que saia ileso da descrença, da desilusão. Que não amargue suas convicções nem subtraia a delicadeza do olhar. Nem tudo caminha conforme o combinado, algumas tristezas e perdas são irremediáveis, mas o saldo é descobrirmos que a existência é cheia de ciclos e recomeços.
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Queria tanto comprar seu livro mas não encontro o livro à não ser virtual!! Já mandei email e sem resposta ainda aguardo! :(
Gosto dos seus textos!!
Querida Gabriele: Puxa, que pena que não conseguiu comprara o livro!
Faz assim: Tenta mais uma vez pelo site:
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ou aqui: https://www.book7.com.br/loja/busca/?buscaPor=a+soma+de+todos+os+afetos
Clica em comprar e preenche com seus dados.
Se não conseguir, me avise que entro em contato com eles, ok?
Obrigada, bjs!!!
Querida Fabíola, gostaria de comprar os livros A Soma de todos os afetos e Felicidade Distraída, mas não estou conseguindo, em que você pode me ajudar?
Oi também estou encantada com as coisas que venho lendo e queria o livro também . Comprei pela saraiva digital mas não consegui fazer o download. Tiveram que cancelar minha compra. Adoooorrroooo seus textos! Sou sua fã!
Nossa! Estou maravilhada com os seus textos Fabíola! A facilidade que tem em usar as palavras para expressar os mais belos sentimentos e estado da alma e uma arte! Um dia vou escrever tão bem quanto você. Amo ler seus textos e a maioria deles me identifico. Algumas vezes, é o que sinto, mas não sei expressar em palavras!
É interessante como ao ler os textos escritos pela Fabíola, eu me sinto mais leve, mais feliz. Essa moça escreve com a sua alma e o sentimento que tenho é como se ela estivesse falando com toda a suavidade e doçura que há em seu coração.
Estou encantada. Parabéns Fabíola. Grande beijo!
Amo seus textos ,me identifico demais ,é do fundo da alma!bjs