Me lembro claramente de uma notícia relacionada à morte do filho do apresentador Jô Soares, a chamada deixava claro de que se tratava de uma homenagem do apresentador para seu filho, Jô esclarece a situação de seu filho, descreve que o fato de ele ser autista não alterou em nada a essência de “Rafinha”, ele “foi uma eterna criança no corpo de um adulto” com sua alma intocada pela amargura que atinge a maioria dos adultos, e foi na conclusão de seu discurso em que eu percebe que Rafinha era muito sábio, a conclusão se deu da seguinte maneira:
“Uma vez, em uma livraria, ele chegou junto ao caixa carregando uma dúzia de livros. Eu estranhei: ‘Rafa, é muito! Escolhe seis’ – e ele ‘Então não quero nenhum, eu prefiro não escolher’ – eu questionei:’ Mas por que não? ‘ e ele ‘ Porque escolher é perder sempre’. Levei todos”.

Neste momento minha consciência fez um mergulho numa grande verdade, a verdade de Rafinha, talvez em sua alma de criança conseguisse compreender as coisas mais claramente do que os adultos que não possuem tempo para pensar em suas ações e entrar em contato com a sua criança interna.

Rafinha tinha a resposta para uma das muitas questões de nossa sociedade, escolher é perder, vivemos em um mundo sufocante, que aparenta ser extremamente rápido e que se caso pararmos por algum motivo seremos esmagados pela boiada que vem logo atrás, que está preocupada demais pensando estar atrasada para algum compromisso para poder olhar para frente.
Creio que desde de que internet se tornou uma ferramenta de fácil acesso, começamos a nos afogar nesse excesso de informação disponível que pode ser acessada à qualquer momento em qualquer lugar, nunca tivemos tanto nas pontas de nossos dedos, e essa informação adentra nossas mentes nos deixando com a sensação de estar perdido em meia a multidão.

Esse contexto fere nossas escolhas, me parece que na maioria das vezes quando optamos por algo , ou demoramos muito para o fazê-lo e inventamos desculpas para nos mantermos onde estamos ou após a escolha ficamos inseguros quanto o que escolhemos e logo queremos mudar, pois o fato de existirem tantas possibilidades, tantos caminhos, a segurança de nossa escolha tende a ser jogada fora.

Por exemplo, imagine a seguinte situação, a pessoa entra em um restaurante com alguns amigos, um desses restaurante requintados e cheios de charme , ela pega o cardápio e lê todas as opções, cada opção lhe parece melhor que a outra, ali ela se depara com uma escolha, no entanto, fica indecisa frente a tantas opções que lhe parecem apetitosas e seus amigos começam a opinar sobre qual prato ela deveria escolher, enfim, após alguns minutos ela consegue se decidir, chama o garçom e faz seu pedido com a maior certeza do mundo pois ela confia em seus amigos pois eles a conhecem e sabem o que é melhor para ela.

Em meio a espera do pedido o cardápio permanece em suas mãos, a pessoa começa a analisar a sua escolha em comparação com as outras, agora as outras lhe parecem mais apetitosas e a segurança da sua escolha começa a desaparecer, assim que o garçom chega com o pedido o desejo da pessoa já mudou e ela se arrepende pelo prato que escolherá, porém, degusta o seu prato com gosto de arrependimento e com um único pensamento em sua cabeça, “deveria ter pedido outro prato, voltarei aqui outro dia para pode fazer isso”, e ela o faz, e continua repetindo o mesmo ato até que todo o cardápio tenha sido provado e ela tenha achado o prato que melhor lhe convém.

A verdade é que estamos fadados a sermos iguais à esta pessoa, mas ao invés de escolhermos um prato escolheremos uma faculdade, um emprego, uma viagem, um ônibus, um livro, uma foto, uma festa, um investimento, uma ideia, um caminho de vida ou até mesmo a pessoa que iremos ter um romance. Porém, diferentemente da situação do restaurante, não teremos como experienciar todos os pratos do nosso cardápio, pois, o nosso é infinito, a questão aqui é entender quem somos, ou seja, entender as nossas escolhas, lidar com o que escolhemos para nós e com as consequências de cada uma delas. Vivemos em um mundo em que todos querem ganhar e que a palavra “ganhar” vem a ser positiva e a palavra “perder” negativa, portanto, não podemos perder nunca, é inadmissível perder, porém, perder é uma arte, pois devemos perder para aprender com a vida, e quanto melhor aceitarmos o fato de que perder é algo inerente na nossa vivência, melhor viveremos, sem medo de estar perdendo algo melhor do que escolhemos.

Mike Akama Mazurek

Mike A. Mazurek, formado em Comunicação e Mestrando em Comunicação e Práticas de Consumo, futuro professor e escritor pelo prazer da vida.

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