Hoje acordei mais cansada que o habitual. Levei o pequeno à aula de inglês e dei uma passadinha na igreja. Minha mãe foi junto e pediu autorização para que eu conversasse com o padre da paróquia. Contei a ele meu desânimo, que vem se arrastando por meses, e ele disse para eu procurar um médico _ “pode ser anemia” _ foram suas palavras, e entendi o que queria dizer.
Mal estar a gente sente a todo momento, e é comum atribuirmos a culpa por nossos desconfortos rotineiros a fatos que estão fora do nosso alcance. Então um desânimo poderia ser fruto de um ambiente de trabalho “carregado”, cheio de inveja e maus espíritos. Dito isso, a causa do mal estar não estaria mais em mim, e sim naquilo que não posso controlar, e portanto, mudar.
Estou num período de entressafra, e sei que é passageiro. E embora tenha motivos para me comover, como quando ligo a tevê e me deparo com a tragédia em Mariana, também fico sensível ao colocar meu menino pra dormir e imaginar que no dia seguinte ele estará um dia mais próximo da puberdade, num tempo longe das nossas brincadeiras e afagos tão maternais.
De vez em quando é normal a vida caminhar pesada, carregada de vazios e com uma falta de sentido alarmante. Também acontece do choro irromper as barreiras do bom senso nas horas mais impróprias: o ônibus que não parou, o episódio do “Que Marravilha Chefinhos” em que a garotinha ganhou todas as estrelas, uma música bonita acompanhada de um pôr do sol visto da janela do carro, uma frustração no trabalho, uma indignação na vida.
Ninguém está livre de maus momentos, e de se sentir caminhando com um peso amarrado nas canelas. Alguns períodos são mais difíceis que outros, e nesse processo de sentir, tolerar e passar por isso com um sorriso no rosto e muita paciência com a própria existência nos faz mudar muito também. Aprendemos a aceitar a inconstância dos dias, o vai e vem da esperança, a entrada involuntária do tédio. Vamos percebendo que já podemos suportar melhor as frustrações, que a falta de ânimo não nos derruba mais, que o cansaço pode ser contornado com algumas horas de sono e muito jogo de cintura.
Somos os únicos responsáveis por mudar aquilo que vai mal na gente. E por mais tentador que seja atribuir a razão de nossas mazelas a fatos que não temos controle, isso não resolve. O que resolve é aproveitar esse momento para descobrir que parte da estrada você pegou errado, e tentar voltar nesse trecho pra consertar alguma coisa a partir daí.
Pois na vida não existem atalhos, ou cortar caminho pra chegar mais rápido. A vida cobra cada etapa mal vivida. E pede que você volte três ou doze casas para refazer o que não foi bem feito. Pode ser que você tenha passado por cima de um luto, e agora fica sentindo essa tristeza a conta-gotas e não sabe o que é. Permita-se voltar ao ponto em que a dor doeu mais e recupere a chance de chorar esse choro até o fim.
Não adie a alegria, mas perdoe-se quando encontrar-se num período de entressafra. Quem disse que ser feliz é ser perfeito? Tudo faz parte de nossa humanidade _ alegria, tristeza, tédio, esperança _ e aprender a tolerar os percalços com serenidade também é sinal de sabedoria.
Que usemos esse tempo para aprender algo novo: uma oração, a chance de aprender a meditar, a vontade de se exercitar, a coragem de se apaixonar.
E que dos espinhos surjam marcas de uma pessoa mais amadurecida, que pode florescer em qualquer estação, pois só quem viu seu solo secar pode dar verdadeiro valor à chuva que vai chegar…
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Simplismente Fantástico!
Fui lendo...lendo...e como em uma sinfonia...os parágrafos se encaixavam com tanta beleza e sabedoria!
Nos três parágrafos finais a conclusão do texto é mesmo comparável ao fechamento de uma peça musical de um grande músico como...Beethoven ou Mozart.
Meu Deus...que texto lindo!!!
Parabéns!
Perfeito Fabiola. Estou nesse momento de solo seco, mas a oportunidade de mudança é grande. Belo texto.
Acho que também estou num momento de entressafra. Quarenta e três anos... Sabe como é, né? Muitas reflexões. Sigamos fortes! Abraços.
Texto maravilhoso, se encaixou direto na minha alma, parabéns e obrigada por nos proporcionar tão bela reflexão ?????
Bela reflexão Fabiola Simões. Sempre leio as crônicas da A soma de todos os afetos parando e pensando...voltando e lendo...lendo e mudando (ou não ) a vida! Hoje cheguei à conclusão que eu paguei muito "pedágio" prá não ter que voltar em algumas estradas! Nem adiantou porque hoje com quase 60 anos, tenho a certeza de que sou obrigada a revisitar as estradas que deixei pra trás na fuga!
Sou viciada em seus textos...E sempre que leio penso, porque essa mulher ñ faz psicologia? Rsrs
Você expressa o que passamos, parece que invade a mente de todo mundo e descreve isso de uma forma tão linda ♡
Você é demais... adoro e sempre copio seus textos!!! Mora em Campinas??? Quero te conhecer... Beijos.
Obrigada mãe! Você sempre me incentivando! Bjs, amo vc!
Que seu solo seco seja realmente a oportunidade de mudança! Obrigada Juliana! Bjs!
Sigamos fortes, Ana Cristina! Obrigada pela leitura e por comentar! Abraços!