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Se o tempo voltasse

 Existe um ditado que diz: “O que não tem remédio, remediado está”. Essa frase serve tanto pra gente se conformar com a realidade (que nem sempre é a que desejamos) quanto para entendermos que o tempo não volta, que o que aconteceu não deixará de acontecer, e que arrependimentos ajudam a construir uma existência mais certeira daqui pra frente.

Alguns acontecimentos nos colocam em xeque mate, e enquanto puxamos o freio de mão da vida que corre acelerada, é possível que questionemos o destino final com o descuido próprio dos viajantes sem direção.

De vez em quando revemos nossas vidas e paramos para pensar nas escolhas que fizemos até o momento. Fica sempre a pergunta: Se o tempo voltasse, eu faria outras escolhas? Teria tomado outro caminho? Ou será que “não somos donos, mas simples convidados”? _ Como disse Mia Couto?

Será que os desfechos de nossas histórias almejam um destino pré traçado, ou são escritos conforme
a caligrafia das escolhas que fazemos e que poderíamos não ter feito?

O que sei é que só podemos nos arrepender do amor que não demos, de que forma for. E mesmo lamentando uma situação presente, ela também é fruto da imperfeição dos dias, e não somente de escolhas mal feitas.

De vez em quando somos tentados a achar que se o tempo voltasse estaríamos mais felizes e realizados. Mas será que teríamos adquirido a sabedoria que temos hoje sem errar? Sem tropeçar nesse terreno arenoso e improvável que é a vida? Tombos e deslizes fazem parte do processo, aprender a levantar e seguir adiante tentando superar as cicatrizes, também. Lamentar o desfecho de nossas escolhas nos tira do papel de protagonistas de nossa própria história, e nos arremessa a um lugar secundário, como co-autores da vida que representamos.

Amadurecer é tomar as rédeas da própria existência; é ser protagonista dos bons e maus momentos, acreditando firmemente que, já que o tempo não volta, só podemos construir uma existência de paz aprendendo a lidar com o que temos pra hoje.

Por mais doloroso que seja o presente, ele é o nosso fato concreto. E aceitá-lo sem dívidas é a melhor maneira de nos sentirmos realizados. Sem pensar na possibilidade de sermos mais felizes em outro lugar senão no nosso. Sem cogitar a esperança de dias melhores a partir de um passado que não tem mais volta. Sem imaginar nossa vida com outros perfumes senão o aroma do presente.

É comum pensarmos “nessa altura da vida”… “Se o tempo voltasse, eu teria seguido por esse caminho, mas o tempo passou e eu não fiz o que queria ter feito…” Desconhecemos a lógica de que o presente está mais perto do que imaginamos, ao alcance de nossas mãos. E é só com ele que podemos contar.

Minha avó tem 87 anos e se matriculou num curso de computação. Sigo me inspirando em sua cartilha de otimismo e determinação. No seu pensamento jovem, apesar das raízes brancas que denunciam os anos corridos. Na sua coragem de olhar para frente, lidando com a própria vida com o entusiasmo dos que não se curvam para trás nem lamentam o que aconteceu. Na sua liberdade de construir a pessoa que deseja ser, sem sabotar o desejo de suas asas, nem podar o que existe de mais belo dentro de si.

Se o tempo voltasse, talvez me machucasse menos. Mas minha falta de cicatrizes não ajudaria a valorizar o momento presente com sabedoria, entendendo que só depois de sermos derrubados, podemos descobrir de fato que fomos ensinados…

*Imagem: Via tumblr

Fabíola Simões

Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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