“Suponhamos que o tempo seja um círculo fechado sobre si mesmo. O mundo se repete, de forma precisa, infinitamente. Na maior parte dos casos, as pessoas não sabem que voltarão a viver suas vidas. Comerciantes não sabem que voltarão a fazer o mesmo negócio várias vezes. Políticos não sabem que gritarão na mesma tribuna um número infinito de vezes nos ciclos do tempo…
… No mundo em que o tempo é um círculo, cada aperto de mão, cada beijo, cada nascimento, cada palavra serão precisamente repetidos. Também o serão todos os momentos em que dois amigos deixarem de ser amigos, toda vez que uma família se dividir por causa de dinheiro, toda frase maldosa em uma discussão entre cônjuges, toda oportunidade negada por causa da inveja, toda promessa não cumprida.
E, assim como todas as coisas serão repetidas no futuro, todas as coisas que estão acontecendo agora aconteceram um milhão de vezes antes…”
O trecho acima, extraído do livro “Sonhos de Einstein”, de Alan Lightman, é um dos muitos que me encantaram enquanto lia as 103 páginas cheias de reflexões, filosofia e descobertas acerca do tempo.
Aprendemos desde muito cedo a medir a passagem do tempo através dos ponteiros do relógio. E não importa se parece que correram horas durante a expectativa por aquele encontro, ou durou um segundo o tempo daquela festa. Estamos sempre presos a consciência do tempo mecânico, ao que ele representa, ao que ele conta.
Mesmo assim, qualquer um já experimentou a sensação de não ter visto o tempo passar estando ao lado do grande amor, ou de ter sentido a eternidade se aproximar durante o período daquela ausência.
No dia 27 de março de 2006, deitada na maca que me levaria à sala de parto, despedia-me de minha mãe, enquanto seus olhos orvalhados não deixavam dúvidas quanto à intensidade de suas memórias _ as mesmas que fundiam meu nascimento ao momento em que eu mesma daria à luz. Mais tarde ela contou que enquanto me dava a mão e se despedia comovida, veio à tona a lembrança da menina que ela tentava fazer sorrir para o primeiro pôster, a formatura na pré escola, os cuidados que a menina dedicava à primeira e única boneca, a entrada na faculdade, o primeiro namoro, as decepções, o casamento, o parto. Naquele instante mágico o tempo era um só, reunindo diversas dimensões enquanto a maca se afastava e prometia o começo de um novo Tempo.
E se o tempo mecânico ou cronológico não existisse? E se tudo o que entendemos como realidade fosse apenas a percepção parcial do que realmente acontece? E se passado e futuro ocorressem simultaneamente, mesmo que a gente só tenha consciência do presente?
Embora essa conversa tenha ares de ficção, e se pareça mais com o seriado “Lost” que qualquer outra coisa, ainda assim me entusiasma saber que a física teria hipóteses semelhantes para explicar o tempo e suas dimensões.
Indo mais além, poderia afirmar que as possibilidades de nossas vidas poderiam ocorrer simultaneamente, cada qual com seu desfecho, em três futuros distintos. Assim, se imaginamos que uma escolha determinou a versão da história que vivemos hoje, podemos estar enganados ao imaginar que somente esta realidade ocorreu de fato. E se outros dois destinos, determinados por escolhas totalmente opostas, estejam ocorrendo simultaneamente, em algum lugar do tempo?
Esta teoria não é minha, que fique claro. É parte do livro que citei, e me fez refletir bastante. Pois mesmo que seja loucura tentar explicar _ ou justificar_ a inconstância de nossas ações e emoções por meio de vidas paralelas que acontecem num outro nível do tempo, ainda assim podemos perguntar: De todas as versões possíveis de sua história, qual é a que lhe faria mais feliz? É esta que você escolheu viver hoje?
Enquanto agradeço a Deus por estar exatamente onde estou, penso que a vida é um constante Déjà vu, uma repetição de eventos e sensações que se separam e se fundem infinitamente.
Tudo se junta e mistura. Meus nove anos, fazendo bolo de barro e catando girino no riacho, e os nove de Bernardo, com suas espadas e dinossauros. Minha mãe aos quarenta, de maiô preto tomando sol em Torres, e meus quarenta _ a primeira mamografia e a capacidade de sentir-me à vontade dentro de minha própria pele. Minha mãe beirando os setenta, cantando Jota Quest no coral do clube, enfatizando o refrão “pra onde tenha sol, é pra lá que eu vou”… e meus setenta, que num piscar de olhos por Deus chegarão, aproximando e fundindo a realidade dos nove, quarenta, setenta e noventa.
“Uma vida é um momento em uma estação. Uma vida é uma precipitação de neve. Uma vida é um dia de outono. Uma vida é uma delicada faixa de luz sendo rapidamente devorada pela penumbra quando se fecha uma porta. Uma vida é um fugaz movimento de braços e pernas.”
Assim diz uma sequência de “Sonhos de Einstein”, assim a vida é. Um instante, uma fusão de momentos, uma faísca no interlúdio de nós mesmos.
E descubro que carrego em mim o que fui e o que serei. As piruetas que dei e as rugas que terei. Os desejos que ansiei e os movimentos que realizarei. O que semeei e o que ainda colherei. As músicas que ouvi e as letras que ainda não decorei; as histórias que vivi e os enredos que ainda escreverei. Os amores que deixei, e os que nunca esquecerei…
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O homem percebeu o movimento é a partir daí inventou o tempo.
Porque o movimento se repete continuamente, ele se disfarça de tempo.
Mas só existe o movimento e nós estamos dentro desta roda, girando, girando.
Beijos e upas menina Fabíola ?
Só uma palavra: "Uau"
Adorei! Obrigada!!!
Querida Norma! Obrigada por vir acrescentar com tanto carinho novamente! Seu comentário me fez refletir um tantinho mais... realmente só existe o movimento _ disfarçado de tempo! Beijo grande pra você e upa forte!
Lindo texto.
Lindo texto.