Outro dia, distraída pela tevê, assisti a um episódio de “Três Terezas”, seriado do GNT. Não lembro o título da história, mas era sobre o aniversário de dezoito anos da Tereza mais nova, filha e neta das outras duas Terezas. O episódio inteiro girou em torno da mesa de café da manhã e a reciclagem de vivências e histórias das Terezas mais velhas ao lembrarem os fatos ocorridos quando elas mesmas tinham dezoito anos. Houve troca de presentes, e a mãe deu a primeira página de jornal _ do dia do nascimento da filha _ enquadrada como lembrança. Tereza mais nova não gostou, achou histórico demais e preferiu o vestidinho que ganhou de Tereza avó. Mesmo não sendo seu estilo, o vestidinho tinha valor, pois fora feito pelas mãos da matriarca.

Porém, ao relembrarem as boas histórias em volta do bolo de café da manhã, resolveram pegar os diários de Tereza mãe. Ao permitir à filha ouvir a leitura da página em que contava o dia em que fez dezoito anos, Tereza mãe comoveu a todos em volta da mesa e ao final foi abraçada pela filha, que disse ter sido aquele seu melhor presente de aniversário.

Então resolvi pensar nos presentes que virão com o Natal que se aproxima, e me entristeci ao perceber que minha lista contém encomendas, não presentes.
E recordei um texto de Martha Medeiros, que se chamava “O melhor presente”. Nele, ela dizia que “o melhor presente que podemos oferecer a alguém é um acréscimo de vida. Podemos fazer isso dando uma dica de livro, uma dica de música, uma dica de lugar para conhecer, uma dica de programa de tevê que foge da mesmice, enfim, tornar a vida do outro mais rica através de ideias e de emoções”.

E hoje, chegando para trabalhar, minha mãe me telefona com a voz embargada. É ela e o Peninha, do outro lado da linha. Me pede para esperar um instante e aumenta o som. Segue o refrão: “Mas não tem revolta não, só quero que você se encontre, saudade até que é bom, melhor que caminhar vazio, a esperança é um dom, que eu tenho em mimmmm…” e eu entendo o que ela quer dizer, pois já me contou essa história inúmeras vezes. Ela diz que a música me traz de volta pequena, aos três anos, em Uberaba. Que tocava na tevê e eu corria para chamá-la pois sabia que ela gostava. E dizia: “Mamãe, é o Peninha! É o Peninha!”

De repente fico muda com o presente inesperado numa tarde de Centro de Saúde. E sei que não posso falar, pois no trabalho a gente tem que manter a postura, e qualquer lágrima soa como deslize. Desligamos o telefone e penso que já ganhei meu presente, só por sermos ‘Duas Simões’ que têm uma vida inteira juntas, partilhando desde aquela letra do Peninha num tempo distante até as aulas de pilates nos dias de hoje.

E se acabo de constatar que minha lista de presentes para o Natal anda materialista demais, com muito mais encomendas que presentes, como o mocassim pra minha mãe e o traje esportivo para o marido, busco agora repensar minhas escolhas e oferecer a vocês, leitores do blog, uma lista com minhas dicas de livros, músicas, filmes, programas de tevê, seriados, viagens… enfim, como disse Martha Medeiros, um presente que traga algum acréscimo de vida.

 Um livro:

Os livros fazem parte da minha vida desde muito cedo, e por isso essa é uma categoria em que não posso indicar apenas um exemplar.
Começando lá atrás, em minhas primeiras leituras na infância, indico dois livros para a garotada na faixa dos dez anos, um pouco mais, um pouco menos, ou adultos que ainda se emocionam com boas histórias.

O primeiro é “Bisa Bia, Bisa Bel”, de Ana Maria Machado. que conta a história da menina Isabel, que um dia encontra uma foto de sua bisavó Bel. A partir daí ela inicia uma relação de muitas descobertas com essa pessoa tão importante na vida de sua família e dela própria. Ana Maria Machado conta que escreveu esse livro pela saudade que sentia das avós e queria contar sobre elas para os filhos. Não imaginou que fosse fazer tanto sucesso, chegando a ser considerado um dos dez mais importantes livros infantis do Brasil.

Outro livro da minha infância é “A bolsa amarela”, de Lygia Bojunga. Esse livro marcou minha pré adolescência, pois me identifiquei demais com a história da menina que entra em conflito consigo mesma e com a família ao reprimir três grandes vontades ( que ela esconde numa bolsa amarela): a vontade de ser gente grande, a de ter nascido menino e a de se tornar escritora. A partir dessa revelação, essa menina sensível e imaginativa ( igualzinha a menina que eu era!) nos conta o seu dia a dia, juntando o mundo real da família ao mundo criado por sua imaginação fértil. Ao mesmo tempo que se sucedem episódios reais e fantásticos, a menina segue rumo à sua afirmação como pessoa.

Mais velha, ganhei de presente do meu pai “Minha vida de menina”, de Helena Morley. Se tornou um dos meus preferidos por ser um diário, de uma garota do final do século XIX, e narrar histórias do cotidiano de forma simples e bem humorada.

Adulta, posso citar alguns livros que se tornaram meus preferidos, apesar da lista só crescer.
_ “Médico de homens e de almas”, de Taylor Caldwell. Narra a história de São Lucas, médico que escreveu um dos evangelhos, e emociona por nos aproximar da humanidade de Deus.
_ “O apanhador no campo de centeio”, de J.D. Salinger. É um clássico, voltado para adolescentes, sobre os pensamentos e experiências vividas por um garoto de 16 anos. Gostei muito, ri bastante, uma parte de mim se identificou também.
_ “O sentido de um fim”, de Julian Barnes. Já falei desse livro aqui no blog, num post de mesmo nome, link aqui. O livro me fisgou por abordar o tempo numa elaborada reflexão sobre o envelhecimento, a memória e o remorso.
_ “Espere a primavera Bandini” e “1933 foi um ano ruim”, ambos de John Fante. Sensíveis, delicados, humanos. Narram as dificuldades e impossibilidades da vida humana de forma sensível e poética. Me marcaram bastante e o autor tornou-se um dos meus favoritos.
_“Complexo de Portnoy” , “Patrimônio”, “O animal agonizante”, “Indignação”, todos de Phillip Roth, um dos meus autores preferidos também. Gosto da forma como ele se comunica, e passa ao leitor a sinceridade das emoções.
_ “Noites azuis” e “O ano do pensamento mágico”, de Joan Didion. São livros biográficos, em que a autora narra sua existência a partir de uma tragédia: a morte do marido durante o jantar e a morte de sua única filha de uma doença misteriosa. “Noites azuis” é a continuação de “O ano do pensamento mágico” e ambos são muito bons, ao abordar as lembranças com delicadeza, apesar de toda dor. Adquiri os livros após ler uma indicação num texto da jornalista Eliane Brum. Quem tiver interesse, segue o link.
Esses dois livros me lembraram “Paula”, de Isabel Allende, outro livro que me comoveu bastante.
_ “A soma dos dias”, de Isabel Allende. Também é uma biografia, em que a autora narra uma fase de sua vida, após perdas e sofrimentos, com grandes ensinamentos.
_ “A menina quebrada”, livro de crônicas de Eliane Brum. Foi o melhor livro de crônicas que já li, com variedade de assuntos, profundidade e muita poesia e sensibilidade. Me inspirou muito.

Um filme:
Ficará na minha lembrança para sempre “Era uma vez na América”, filme de 1984 com Robert de Niro. Assistam!

 Uma música:
Difícil escolher uma, mas fico com “João e Maria” do Chico Buarque; “Luiza” de Tom Jobim; “Giz” de Renato Russo (na verdade ficaria com todas de Renato Russo); “O que se quer”, de Marisa Monte ( também ficaria com todas); “Fidelity”, de Regina Spektor; U2; Coldplay; etc

Um seriado:
Adoro “Anos incríveis”, seriado que era exibido pela TV Cultura há alguns anos e que consegui comprar na íntegra pelo Mercado Livre. Recomendo.
Atualmente continuo seguindo Grey’s Anatomy, adoro!

Uma viagem:
Não fui mochileira, não fiz intercâmbio, viajei pouco com meus pais. Tenho viajado mais agora, adulta e casada. Mas acredito que para uma viagem se tornar inesquecível, ela tem que acrescentar mais que descanso, sossego e paz. Tem que agregar conhecimento, prazer, descobertas _ não somente dos lugares, mas principalmente de si mesmo; mudança de ares e de humor; quebra da rotina; alguma aventura; um olhar diferente para a vida que se tem e que se quer ter.
Não sou uma pessoa consumista, por isso fugiria de destinos com o único propósito de gastar. Nunca fui a Nova York mas adorei a Disney esse ano. Também gostei de Buenos Aires e do Chile, apesar de ter me dado muito mal com esqui. No Brasil fico com Noronha e Bonito, dois destinos para os quais quero voltar.

Bom, acho que é isso. Espero ter agregado algum conhecimento com minhas dicas. E se vale uma sugestão, que tal presentear aquela tia, prima, pai, mãe, amigos, filho, sobrinho… com um dos livros que indiquei, ou um CD bacana, um DVD diferente ou mesmo o livro de viagens da Martha Medeiros ou Danusa Leão.

… Hoje, ao me despedir do meu filho para trabalhar, vi suas mãozinhas formarem um coração com os dedos atrás da janela enquanto meu carro afastava da garagem. Terminando de contornar o condomínio, meu pequeno me surpreende mais uma vez, cortando caminho pela grama e indo me reencontrar na saída do portão. Ganho um abraço de urso e agradeço a Deus meu mais valioso presente.

E vou descobrindo que a Tereza mais nova tinha razão: os melhores presentes são aqueles que comovem mais. Não precisa ser o mais caro, mas aquele que chega na hora certa, e encaixa da maneira exata. Pode ser um abraço _ melhor que mil palavras quando se quer dizer “estamos juntos nessa”; uma música no meio da tarde pra lembrar alguma conexão do passado; um cartão cheio de coraçãozinhos pintados a canetinha; uma foto antiga emoldurada; um pendrive cheio de filmes inéditos; um livro emocionante; uma dica de viagem; um CD original.

Se chegou até o final desse post, agora desafio você. Deixe aqui nos comentários dicas de livros, filmes, músicas e viagens. Para que possa inspirar outras pessoas também. Para que, de alguma maneira, possa presentear a todos que por aqui passarem.
Obrigada!

 

Fabíola Simões

Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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  • Eu adoro os seus textos, Fabíola, são sensíveis e sensacionais. Bom, livros são o ar que respiro, então também poderia indicar vários. Mas fico com o Faça amor não faça jogo, do Ique Carvalho. Acabei de ler e ainda estou encantada com a sensibilidade desse publicitário de 34 anos. O livro era para ser uma coletânea de crônicas, mas de tão lindas, chega a ser quase uma antologia poética. Vale muito a pena. E com certeza é um presente que vai tocar a vida de muita gente! Valeu as dicas! Boa noite!

  • Belo texto... foi impossível não me emocionar com você falando do telefonema da sua mãe e o Peninha!!! Ganhei o dia!!!

  • Olá Cris! Obrigada pela visita e pela dica! Procurei o autor do livro que você citou no google e encontrei o blog que ele mantém, estou adorando lê-lo! Obrigada por acrescentar! Bjo grande pra vc!

  • Oi, como sempre seus textos são cheios de sensibilidades, cheios de emoções, valeu pela dica dos livros, vou segui-las !!! Q no próximo ano, vc continue a nos presentear com seus textos deliciosos, q sempre acrescentam em nossas vidas !!!! Um final de semana cheio de paz !!!

  • Olá. vendo a sua página no facebook, cheguei até o seu blog, que é cheio de riquezas e informações. Amei. Já coloquei o seu blog entre os meus amigos, mas como faço pra te seguir? Não há essa opção aqui, acho. Amei o seu texto e me emocionei muito com o trecho do Peninha, bem família, bem nostálgico, bem eu mesma. Um livro: todos do Paulo Coelho. Mas iniciei as minhas leituras de forma inusitada; ao invés de livros infanto juvenis, eu fui estimulada pelo meu saudoso pai a ler os grandes clássicos da literatura, aqueles livros que a maioria dos jovens só leem de forma obrigatória para trabalhos escolares e/ou para prestarem o vestibular. Amo José de Alencar e Machado de Assis. Quanto à viagens, nunca fui, infelizmente mochileira, eis a minha maior frustração. Tive uma infância e uma juventude maravilhosa, mas quanto à viagens, só aqui por perto, nas ilhas próximas a Salvador(minha terra natal e onde habito). Alguns lugarejos próximos, nunca saí do pais, infelizmente. Espero que o meu filho, um dia tenha essa oportunidade, viajar é sempre uma grande aprendizagem. Mas posso indicar a Ilha de Itaparica, que amo muito e a terrinha do Jorge Amado, Ilhéus. Um filme...meu filhote é um cinéfilo e grande escritor-blogueiro de cinema. Já assisti a tantos grandes filmes, que citarei um baseado em um livro que amo demais: 'O Morro dos Ventos Uivantes,' de Emily Brontë. Mas o filme que indico é o de 1992, com a grande atriz Juliette Binoche(interpretando a Catherine) e com um dos melhores atores, Ralph Fiennes(como o Heathcliff). Já assisti a esse filme centenas de vezes. Meu blog é :http://fabuladequimera.blogspot.com.br/ ando ocupada com as festas de final de ano, serei mais assídua após. Me visite, se assim desejar. Beijos.

  • Fabíola querida, adorei o conto sobre presentes, tirei vária ideias e sugestões. Vou assistir as três Teresas, já pesquisei é um filme brasileiro.
    Nossa me vi no Peninha. Não fui mochileira mas meus filhos foram. Me realizei neles. Fiquei pensando que livro indicar, amei Minha História da Michele Obama, adorei Domitila de Paulo Rezutti, e a música que gostei foi Epifania dos Titãs. Feliz 2020 com saúde e paz. Beijos.

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